
Apesar da importância para a sociedade, devido ao seu papel na formação de cidadãos e disseminação de conhecimento, a profissão do professor não é tão antiga quanto se imagina. No Brasil, por exemplo, o dia 15 de outubro só foi oficializado em 1963 como O Dia do Professor, quando foi decretado pelo então presidente do País, João Goulart. Esse fato ocorreu 136 anos após Dom Pedro I assinar o decreto imperial que criou o ensino elementar no Brasil — a partir desse dia, a educação oficial foi instaurada no País. Mas como esses profissionais são formados nos dias de hoje?
De acordo com Carlota Boto, docente da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de São Paulo, a formação de professores é baseada em três fundamentos essenciais: o professor deve dominar totalmente os princípios da disciplina que ministra; deve possuir o conhecimento didático pedagógico, que são os saberes educacionais, isto é, como o conhecimento será ensinado, conhecido por “transposição didática”; e, por fim, há o conhecimento advindo da experiência escolar, ao qual o docente mescla a teoria da disciplina com o conhecimento relativo ao preparo pedagógico e com o saber de seus alunos.
A professora desenvolve sobre essa base fundamental: “Antes de tudo, o professor tem que conhecer qual é sua área do conhecimento. Se ele é um professor de história, geografia ou matemática, ele tem que conhecer a matéria profundamente. Mas só esse conhecimento não é suficiente para ele. Então é necessário o conhecimento que possibilita a maneira pela qual esse professor vai transformar o seu conhecimento em um conhecimento do outro. E, finalmente, existe um conhecimento que só a cultura escolar oferece, aquele conhecimento que o António Nóvoa vai chamar de conhecimento profissional docente, é o conhecimento do que ele aprendeu ao longo da sua trajetória como professor”.

Importância para os alunos
Segundo a especialista, o docente possui muito impacto na vida dos seus discentes e isso é decorrente da relação do professor com os estudantes, a relação do professor com o conhecimento, a dos estudantes com o conhecimento e a relação dos estudantes com o professor. “É fundamental que isso se dê através de uma dinâmica que seja, ao mesmo tempo, reflexiva, crítica e criativa. Ou seja, quanto mais o professor coloca questões da realidade para os seus alunos, seja ele de que disciplina for, maior será a possibilidade de ele levar o aluno a uma interpretação mais aguda do real”, explica Carlota.
Diante dos três pilares fundamentais para a formação profissional do educador, o principal desafio se encontra exatamente na capacidade que os cursos formadores de professores possuem de ensiná-los. “Os estágios são muito importantes, existe toda uma bibliografia que vai mostrar o impacto dos primeiros anos na carreira profissional dos professores. Então, os primeiros anos são tidos como aqueles em que nós demarcamos a nossa identidade profissional”, assim, na visão da especialista, é imprescindível que essas primeiras vivências na sala de aula sejam acompanhadas de profissionais experientes e tenham a partilha de saberes entre eles. Para ela, os cursos de formação devem trabalhar as práticas de estágio de maneira cuidadosa e prestativa.
Além disso, Carlota faz uma crítica à formação inicial dos professores baseada no Ensino a Distância (EAD), porque, segundo ela, dessa forma eles irão perder os pilares do conhecimento profissional docente devido à falta, especialmente, da prática educacional. Por outro lado, a especialista ressalta que esse método não seria prejudicial para cursos de atualização, extensão e, até mesmo, cursos de pós-graduação: “Existe a necessidade de nós trabalharmos essas novas tecnologias da informação, isso é um fato, a ideia das modalidades a distância está colocadas como um desafio. Mas um curso inicial de graduação totalmente a distância pode ser prejudicial para uma boa formação do professor”.
E o local de ensino?
Na visão de Carlota Boto, o formato no qual o ambiente escolar foi organizado é muito antigo, portanto, o grande desafio da área da educação diante das transformações que estão ocorrendo no mundo, em especial as inovações tecnológicas, é alterar a configuração das escolas. Ela cita um documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), publicado em 2022, com o nome de Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação, que objetiva a concretização de um novo contrato social da educação, isto é, a ideia de novos contextos educativos que redesenhem a estrutura atual da sala de aula. “Ao invés do professor falando a mesma coisa para todos os alunos, esses alunos devem estar trabalhando em grupos, subdivididos em projetos, de maneira a que o aprendizado ocorra sem ser um aprendizado verticalizado, ou seja, um aprendizado que passa exclusivamente por uma transmissão de conhecimento entre professor e aluno. O aluno deve, também, pesquisar os novos conhecimentos”, finaliza.
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