Silvestres ou urbanas, as febres continuam ameaçando a nossa saúde

Por causa da expansão urbana, da invasão do campo pela cidade, febres que julgávamos esquecidas ou restritas a alguns territórios vieram bater à porta das nossas casas

 19/08/2024 - Publicado há 7 meses

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Paulo Saldiva diz, na abertura de sua coluna, que as febres, ao longo do tempo, sempre representaram um fator importante de doença, a ponto até mesmo de mudar a nossa cultura. No Brasil, são divididas em febres silvestres e urbanas. Silvestres são aquelas que se contrai quando invadimos um reservatório animal, localizado numa zona inóspita, como é o caso, por exemplo, da febre amarela e da malária. “Recentemente tivemos a covid-19 e as variantes da influenza, que geram transmissões de pessoa a pessoa e necessitam de grandes aglomerações. Nos contaminamos no Metrô, no transporte, no serviço, ou seja,  ficavam doentes aqueles que mantinham a cidade funcionando no seu comércio e entregando comida e mantendo a funcionalidade das cidades.”

Agora nós temos uma situação peculiar, prossegue o colunista, porque as arboviroses – a dengue, a chikungunya –  estão vindo com força, de modo que nem sempre adianta só fazer a fumigação, por exemplo. A fêmea do mosquito Aedes aegypti possui uma autonomia de voo ao  redor de 150, no máximo 200 metros, um raio que pode abranger muitas casas, lixo e córregos. “Aonde se percebe que o saneamento e a drenagem urbana, a coleta de lixo sólido, você limpar a cidade, faz parte da inibição dos criadouros.” Por outro lado, há também a situação da precariedade da expansão das cidades para regiões que não são cidade nem campo, “é uma borda irregular, e isso faz com que doenças febris, como, por exemplo, a febre maculosa, que é um carrapato que fica na capivara, que seriam típicas de regiões rurais, mas que essa invasão, esse espraiamento das cidades, de forma irregular, está transformando certa promiscuidade entre a cidade e o campo, favorecendo o surgimento de febres que pensávamos que tinham desaparecido”, argumenta Saldiva.

De acordo com ele, o momento é de vacinas, de atender às pessoas, de vigilância e de tentar destruir os focos do mosquito, “de nós fazermos a nossa parte, mas também precisamos cuidar da expansão, do zoneamento, da moradia e da limpeza urbana. Está aí um cenário complexo, mas as febres que julgávamos esquecidas ou restritas a alguns territórios vieram bater à porta das nossas casas”.


Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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