Automedicação pode agravar as dores de cabeça e torná-las mais frequentes

Gabriel Taricani Kubota explica que as pessoas se acostumam com a rotina de dores e fazem o tratamento por conta própria, quando elas são enfermidades que precisam de um tratamento médico específico

 15/05/2024 - Publicado há 2 meses
Um estudo publicado em 2018 mostrou que cerca de 3 bilhões de pessoas no mundo sofrem com dores de cabeça – Foto: Freepik e Pexels – Fotomontagem: Jornal da USP
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O próximo dia 19 de maio é o Dia Nacional de Combate às Dores de Cabeça e a Campanha Maio Bordô alerta para as cefaleias, termo médico utilizado para designar essas dores. Os especialistas alertam que mais de três dores nesse local por mês é um alerta e reforça a importância de procurar ajuda profissional. O professor Gabriel Taricani Kubota, coordenador do Centro de Dor do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, reforça a importância de se estar atento aos sinais.

Gabriel Taricani Kubota – Foto: Linkedin

Segundo o especialista, um estudo publicado em 2018 mostrou que cerca de 3 bilhões de pessoas no mundo sofrem com dores de cabeça recorrentes e ele conta que as causas mais frequentes são as enxaquecas e as cefaleias tensionais, as quais muitas vezes são entendidas como sinônimos pela população, mas são diferentes doenças que provocam dores de cabeça. O professor explica que muitas vezes as pessoas se acostumam com essa rotina de dores e fazem o tratamento por conta própria, através da automedicação, quando, na verdade, elas são enfermidades que precisam de um tratamento médico específico.

“A automedicação, em um primeiro momento, pode gerar alívio, mas, se feita de uma forma muito frequente, gera uma outra condição, que é chamada cefaleia por uso excessivo de medicação. Essa condição ocorre quando as medicações analgésicas usadas na hora da dor, quando são tomadas de forma muito frequente, aumentam a frequência com que a dor vai acontecendo”, explica.

Três é demais

Conforme o docente, a enxaqueca é a segunda maior causa de dores de cabeça na população, mas é a que mais impacta, pois resulta em redução de produtividade, faltas no trabalho, além de poder desencadear outros problemas como insônia, depressão, ansiedade e obesidade. No Brasil, os custos médicos com exames e consultas para essa doença ultrapassam a marca de R$ 67 bilhões por ano. 

De acordo com Kubota, muitas vezes os indivíduos acabam culpando essas doenças como as responsáveis pela dor, quando na verdade o que ocorre é o oposto. Ele relata que a campanha adotou a frase “três é demais”, pois os pacientes que têm menos que esse número de dias com dor no mês conseguem ser tratados pelos médicos apenas com medicações. No entanto, aqueles com mais de três dias com dores de cabeça no período apresentam piora da situação com o passar do tempo se não receberem acompanhamento médico adequado.

O professor afirma que o tratamento para as enxaquecas crônicas possui três pilares: o primeiro é a necessidade de amenizar os distúrbios que surgem a partir desse problema, como os problemas de sono; o segundo é o tratamento com analgésicos para a redução das dores, mas ele reforça que esses medicamentos devem ser prescritos por um médico e sozinhos não resolvem a situação. “O terceiro e mais importante pilar é o tratamento profilático preventivo, que são medicações tomadas todos os dias, com ou sem dor, para reduzir a frequência e intensidade das cefaleias. Esse tratamento ocorre geralmente de dois a três anos e, na maioria das vezes, é suficiente para o paciente melhorar bastante, mas é importante que seja feita uma avaliação médica profissional”, esclarece.

Normalização

Para Kubota, as dores de cabeça ainda são muito frequentes entre a população porque existe uma normalização desses sintomas, já que as pessoas se habituam com esse transtorno e muitas vezes ignoram o tratamento médico adequado. Ele conta que, muitas vezes, os indivíduos acabam culpando a si mesmos pela dor, por algum hábito em específico no cotidiano.

“Então, na verdade, é uma doença como qualquer outra, como pressão alta, diabete ou problema de colesterol, que tem tratamento e que pode melhorar a qualidade de vida. Essa é a principal mensagem: as pessoas precisam procurar mais o médico neurologista e ouvir sua opinião para decidir o tratamento em conjunto. Com isso, é possível uma melhora na qualidade de vida, funcionalidade e produtividade do paciente”, finaliza.


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