Brasil precisa estipular prazos concretos para a transição energética

Pedro Luiz Côrtes afirma que, enquanto as metas ficam apenas no discurso, o País continua utilizando fontes mais caras e poluentes

 01/03/2024 - Publicado há 5 meses
A falta de planejamento governamental faz as propostas de transição energética não serem aplicadas corretamente – Foto: Rawpixel / Freepik
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No dia 31 de janeiro, o ministro de Minas e Energias, Alexandre Silveira, assinou o Plano de Trabalho para a Aceleração da Transição Energética no Brasil com a Agência Internacional de Energia (IEA), em evento realizado em Brasília. Apesar da assinatura do termo, o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, alerta para a ausência de prazos definidos para redução da utilização de combustíveis fósseis.

Falta de Planejamento

Conforme o especialista, alguns lugares em específico do País têm propostas concretas para reduzir o uso desses combustíveis, como a cidade de São Paulo, que pretende implementar cada vez mais unidades de transporte coletivo movidas a energia limpa. Contudo, ele destaca que o plano precisa conter propostas que atinjam o País inteiro para que haja maior eficácia nesse combate.

Segundo o docente, a presença das iniciativas regionais e municipais no desenvolvimento de fontes renováveis de energia, além dos investimentos privados, é extremamente importante, mas ainda não há um planejamento central do governo indicando como esse processo deveria ser realizado. O ministro Silveira citou a importância do petróleo para os próximos vinte ou trinta anos, mas, para Côrtes, essa influência do combustível não exclui a necessidade de um planejamento adequado de transição energética.

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Lattes

“Não podemos abrir mão de um planejamento onde metas e datas intermediárias são estabelecidas, com isso vamos mensurando o nosso avanço em relação a essa transição energética. Como um grande projeto nacional, tem que se estabelecer metas intermediárias para mensurar o andamento do projeto, para conferir se está avançando ou retrocedendo. Se não temos esse planejamento, realmente isso fica muito prejudicado”, esclarece.

Altos custos

De acordo com Pedro Luiz Côrtes, a falta de planejamento governamental faz as propostas de transição energética não serem aplicadas corretamente, ou seja, a prática não é condizente com o discurso propagado. Como resultado, o professor explica que a economia do País continua utilizando as energias termelétricas movidas a carvão, gás ou óleo que, além de terem custos elevados, são extremamente poluentes ao meio ambiente, quando as hidrelétricas não conseguem suprir todas as necessidades. 

Segundo o docente, também há no Brasil o investimento em usinas termonucleares, que utilizam o combustível baseado em fusão nuclear e são geralmente empregadas em países com poucas opções de energia. Ele conta que, no Brasil, não há necessidade de utilizar esse tipo de produção, pois a construção e início das operações demanda bastante tempo e há ainda o risco de acidentes nucleares, cujos impactos são devastadores.

“A falta de planejamento da transição energética vai levar ao aumento de emissões, porque ainda vamos continuar usando as termelétricas para suprir a ausência de geração hidrelétrica. Às vezes, devido à carência de chuvas, nós vamos ter custos maiores em determinados momentos e terá falta de incentivo maior na geração, utilizando fontes renováveis que são melhores e mais acessíveis à população em termos de custo final”, finaliza.


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