A guerra de informações distorcidas

O conflito molda uma realidade de pânico e faz com que o público fique à mercê de informações quase impossíveis de confiar, graças às manipulações da IA

 24/10/2023 - Publicado há 9 meses
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Na Europa, em Paris, onde estou, o nervosismo é sensível nas ruas, nas conversas de bar e entre especialistas. O tema, evidentemente, é a guerra de Israel contra o Hamas na região da Palestina, no Oriente Médio. Aqui na França, a sucessão de manifestações, ameaças de bomba e atos de hostilidade contra os judeus e muçulmanos, que já eram frequentes, se multiplicaram com o ataque terrorista do Hamas contra civis e a forte retaliação militar israelense, que bombardeia incessantemente a Faixa de Gaza e asfixia mais de 2 milhões de palestinos.

A natureza da guerra, eu acredito, mudou – pode mudar ainda mais – não somente pelos drones, mísseis, bombas, escudos de proteção, fantásticos, que, a cada minuto, escrevem um roteiro de destruição, mas também por conta de uma guerra que está sendo travada fora dos campos de batalha tradicionais. Há muito que se sabe que, nas guerras, a primeira vítima é sempre a verdade, basta bater os olhos no Twitter, no Facebook, no Instagram , no Tik Tok, para a gente perceber o dilúvio de vídeos e imagens brutais de violência explícita compartilhadas on-line por milhões de pessoas.

O problema é que muitas vezes, ao procurar uma boa informação, muita gente se depara com uma avalanche de desinformação, graças, evidentemente, às plataformas de inteligência artificial (IA) mantidas por grandes empresas de tecnologia, que não conseguem, algumas vezes nem mesmo pretendem, retirar do ar fake news, relatos inventados, distorções de imagens de vídeos, notícias e depoimentos que só existem para gerar uma profusão de versões e semear a confusão.

A velocidade que a desinformação está sendo semeada não tem precedentes […] relatos são unânimes em afirmar que a cada dia é mais difícil encontrar informações, vídeos e fotos confiáveis, porque podem ser feitas via algum programa mais avançado, via uma plataforma de inteligência artificial, que acaba construindo relatos, mesmo com imagens, bastante similares à verdade. Parece uma tempestade perfeita, em que os relatos não são de fontes primárias, mas chegam via Telegram, lá da Rússia, e mesmo de Israel ou de movimentos ligados às organizações palestinas.

Não há sistemas confiáveis e checagem de imagens de vídeo, muitas vezes a gente vê imagens da guerra que são atribuídas a Israel, porém vêm lá da guerra da Argélia ou da guerra da Síria, nós temos sempre que lembrar que é a IA que viabiliza a proliferação dessa desinformação, é certo, mas ela se combina com decisões empresariais como no Twitter do Elon Musk, que demitiu grande parte das pessoas responsáveis pelo combate à desinformação. A guerra molda uma realidade de pânico e faz com que o público fique à mercê de informações que a gente não pode confiar, como se houvesse um apagão da informação confiável. É fundamental que haja combate contra a distorção, de modo a recompor a verdade dos fatos. O bom jornalismo mostra que é insubstituível. Cuidem-se todos, procurem conferir suas fontes, um abraço de coragem neste mundo cada vez mais perigoso.


Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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