Teatro da USP recebe espetáculo sobre o mito do Minotauro

Peça da Cia Teatral Energós se inspira em fragmentos de duas tragédias de Eurípedes, “Kretes” e “Theseus”

 24/11/2022 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 27/11/2022 as 21:36
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Cena da peça Labirinthos – Foto: Bruna Massarelli

A tragédia e o misticismo gregos chegam ao palco do Teatro da USP (Tusp) com o espetáculo Labirinthos, encenado pela Cia. Teatral Energós. Em cartaz até 18 de dezembro, a peça se baseia em fragmentos de duas obras perdidas do dramaturgo grego Eurípedes, do século 5 antes de Cristo — Kretes e Theseus, até então inéditas na língua portuguesa —, para apresentar uma nova versão da lenda do Minotauro. O professor João Anzanello Carrascoza, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, assina a dramaturgia.

 O diretor Leonardo Antunes – Foto: Divulgação/Cia Teatral Energós

“Eurípedes escreveu algumas tragédias que chegaram até os dias de hoje, como Medeia (431 a.C.) e Hipólito (428 a.C.), suas obras mais conhecidas, mas escreveu também muitos outros textos que foram apagados pelo tempo”, diz Leonardo Antunes, diretor da Cia. Teatral Energós. Os textos “perdidos” do poeta trágico grego podem ser acessados apenas de forma incompleta, por meio de fragmentos que resistiram à passagem dos séculos. 

Com Jean Pierre Kaletrianos, ator e colaborador de longa data, Antunes traduziu para o português pela primeira vez as poucas páginas conservadas de Kretes e Theseus, obras que funcionam como antecessora e continuação, respectivamente, do mito do Minotauro. “Kretes trata dos acontecimentos anteriores ao nascimento da criatura parte homem, parte touro: a desmedida do rei Minos e a praga que foi lançada sobre sua esposa, a rainha Pasífae, que enlouquece”, explica o diretor. “A outra tragédia, Theseus, fala do herói ateniense que mata o Minotauro.”

“Esses textos dizem sobre o homem além da esfera individual, subjetiva. Eles trazem temas atemporais, que sempre assombraram a humanidade: o anseio pelo poder, a ganância, a distinção entre o homem e o animal e até mesmo a luta pelo protagonismo feminino”, expõe Leonardo Antunes.

Para completar as lacunas das antigas criações de Eurípedes, a companhia teatral convidou João Anzanello Carrascoza, escritor premiado e docente de Redação Publicitária na ECA. “Ele trabalhou a dramaturgia do espetáculo a partir dos elementos traduzidos, da obra de outros autores — como Júlio Cortázar, que revisitou o mito do Minotauro — e dos ensaios que já fazíamos com os atores”, conta Antunes. 

O fio condutor de Labirinthos, entretanto, é a música. Os textos trágicos eram escritos em versos, que ditavam o modo de falar de seus personagens: alguns mais musicais, e outros aproximados à fala cotidiana. “O espetáculo toma o papel do coro como protagonista da ação. Ora testemunha, ora atravessado pela tragédia, o coro guia o espetáculo e, a partir dele, os integrantes se destacam a fim de dar voz às várias personagens do mito”, esclarece o texto de divulgação da peça. Toda a música das sessões é realizada ao vivo pelos atores, que tocam violinos e adufes — ou “pandeiro quadrado”, um instrumento de percussão português — e entoam canções em grego arcaico e moderno.

“A música perpassa e costura todo o espetáculo, junto com o trabalho corporal dos atores, que é muito vigoroso. Para mim, a tragédia não é composta só por aquilo que ela diz no texto. Música, corpo, espaço, luz, cenário, máscaras – todas essas diferentes mídias lhe dão características muito singulares”, completa Antunes.

 

Ciclo de palestras

Paralelamente à exibição de Labirinthos, a Cia. Teatral Energós promove uma série de palestras sobre o misticismo na Grécia antiga. Os simpósios têm entrada gratuita e acontecem às quartas-feiras, a partir das 20 horas, no Tusp. “Convidamos três professores que, além de afinidade com o gênero trágico, têm uma fala fácil de ouvir”, conta o diretor Leonardo Antunes.

Panfleto de divulgação do ciclo de palestras – Foto: Divulgação/Cia Teatral Energós

Malena Contrera, que lidera o Grupo de Pesquisa em Mídia e Estudos do Imaginário da Universidade Paulista (Unip), inaugurou o ciclo com o seminário A Sombra e o Mito, no dia 23. O Papel da Música na Tragédia é o tema do próximo encontro, com o professor Marcus Motta, da Universidade de Brasília (UnB), no próximo dia 30. Já em 7 de dezembro, a professora Mary Lafer, da  Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, encerra o ciclo de palestras com Origens do Teatro Ateniense.

O espetáculo Labirinthos está em exibição no Teatro da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, em São Paulo, próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do Metrô). A temporada vai até 18 de dezembro, com apresentações de quinta a sábado, às 21 horas, e domingos às 19 horas. Gratuito às quintas-feiras, com retirada de ingressos na bilheteria a partir das 20 horas. Às sextas, sábados e domingos, o ingresso é vendido a preço popular (R$ 10,00 a inteira e R$ 5,00 a meia) pela plataforma Sympla e na bilheteria. Classificação indicativa: 14 anos. É obrigatório o uso de máscaras. Mais informações estão disponíveis no site do Teatro da USP (Tusp)


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