O Brasil fechou o ano de 2020 com a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 90%. O debate acerca dessa relação é o tema desta semana da coluna Reflexão Econômica. “Existe um debate entre economistas sobre até que ponto aumentar a dívida em relação do PIB é nocivo para o crescimento da economia brasileira”, aponta o professor Luciano Nakabashi.
Nakabashi informa que países desenvolvidos na Europa e os Estados Unidos, que acabam de aprovar um pacote de estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão, têm uma relação dívida e PIB bastante elevada. Mas alerta que não devem ser comparados ao Brasil, pois a situação é diferente, inclusive em relação à política monetária, ou seja, sobre a escolha da taxa de juros, e essas duas coisas estão relacionadas, não são independentes, porque uma tem impacto sobre a outra.
O professor lembra que os juros, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, estão muito baixos. “Nos Estados Unidos, os juros estão próximos de zero, quando eles aumentam a dívida os juros não têm impacto sobre a dívida, que só aumentam (juros) quando eles fazem mais dívidas.” Já no Brasil, diz Nakabashi, apesar de estarem baixos, os juros são mais altos que nos Estados Unidos e existe uma tendência de aumento ao longo de 2021. “Não temos histórico de inflação controlada e taxa de juros mais baixa. Isso tudo traz mais incerteza para a economia do País, por isso é importante controlar essa relação para dar mais estabilidade macroeconômica, que ajuda a manter os juros baixos.”
Segundo o professor Nakabashi, a possibilidade do não pagamento da dívida pública, um histórico que acompanha vários países da América Latina, de moratória em algum momento, faz com que os investidores percebam essa fragilidade, o que pressiona por um prêmio de risco maior, ou seja, uma maior taxa de juros da dívida pública. Isso, segundo Nakabashi, é essencial para que os investidores estejam dispostos a emprestar dinheiro para o governo.
A incerteza dos investidores provoca insegurança e fuga de capitais, o que deprecia a taxa de câmbio, ou seja, uma queda do real em relação a outras moedas, o que também tem impacto inflacionário. “O grande problema de hoje é criar essa espiral inflacionária, aumento da relação dívida pública e PIB, aumento das taxas de juros para segurar a inflação e esse juro pressionar o crescimento da dívida em relação ao PIB.”
Nesse cenário, o professor enfatiza a necessidade de controlar os gastos do governo, nas três esferas. “Isso vai dar estabilidade macroeconômica e consequentemente atrair investimentos e controlar a inflação, relações que estão todas interligadas. É um período atípico, mas, só assim, vamos criar condições para diminuir os efeitos da pandemia na economia brasileira.”
Reflexão Econômica
A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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