Garantia de atendimento básico a doentes crônicos do SUS requer maior coordenação

Segundo Bruno Gualano, é preciso realizar o acompanhamento desses pacientes, mesmo em época de pandemia, renovando receitas, ajustando medicamentos e as condutas terapêuticas

 20/08/2020 - Publicado há 4 anos
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Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, especialista fala sobre a desassistência de pacientes crônicos durante a pandemia. Numa amostragem de 66 pessoas, o estudo de um grupo de pesquisa da USP verificou a incidência de piora da saúde mental e física. Apesar de muitos pacientes terem teleatendimento, em alguns casos há necessidade de acompanhamento médico presencial, o que tem sido inviabilizado pela pandemia e pela falta de articulação política para o Sistema Único de Saúde.

O professor Bruno Gualano, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, explica que, durante a pandemia, todo o foco tem sido para combater a covid-19, enquanto muitos pacientes com doenças crônicas têm tido agravamento das condições de saúde. O estudo rastreou e visitou 66 pacientes na cidade de São Paulo, especificamente pessoas com artrite reumatoide e em pós-operatório de cirurgia bariátrica.

O especialista informa que a pequena amostragem do estudo permite vislumbrar a gravidade da situação dos pacientes crônicos que dependem do Sistema Único de Saúde, que poderia atender essa população necessitada de forma massiva, por meio do agente comunitário de saúde, que pode ser treinado para fazer o rastreio em domicílio claro que com as medidas de segurança e distanciamento social, se necessário –, de forma a levar saúde para essa população desassistida durante a pandemia. “Quando nós temos essa possibilidade imensa de cobertura que é o SUS , essa [desassistência] não poderia acontecer. Basta uma articulação que designe os recursos necessários para o atendimento de toda a população. Meios de cobertura nós temos com o SUS, nós precisamos é de cérebro, de coordenação, de articulação política para que o sistema funcione.”

“O estudo serve para demonstrar o problema que está ocorrendo. Não é só no Brasil. Tem um estudo nos Estados Unidos que mostra claramente um excesso de mortalidade para além do que seria esperado da covid-19. Esse excesso de mortalidade, muito provavelmente, como os autores discutem no trabalho, é que, nos Estados Unidos, esse ⅓ de excesso de mortalidade pode ser justificado por esses pacientes com condições crônicas desassistidos durante a pandemia”, afirma o professor.

Gualano compartilha que o estudo obteve maiores resultados dos pacientes que fizeram a cirurgia bariátrica: “Detectamos que 66% dos pacientes apresentavam pressão arterial aumentada; ¼ da nossa amostra de 66 pacientes apresentava inflamação crônica; cerca de ⅓ tinha sintomas depressivos; 40% apresentavam sintomas sugestivos de ansiedade; três desses nossos pacientes visitados falaram sobre pensamentos suicidas e foram encaminhados imediatamente para cuidado médico especializado”.  O estudo observou também o impacto do estilo de vida na saúde: “Esses pacientes são bastante inativos e, quando comparados com os que eram ativos, apresentavam uma pior saúde física e mental. Isso nos dá conta da importância de manter um estilo de vida saudável mesmo em isolamento social”.

Apesar de o estudo não possuir dados dos pacientes no período anterior à pandemia, o índice durante o período tem sido preocupante. Segundo Gualano, a população de doentes crônicos já possui predisposição a distúrbios de ansiedade, transtornos de humor e depressão, o que foi verificado no rastreio dos pacientes. A realização do estudo foi em sincronia com profissionais de saúde do Hospital das Clínicas da USP. “Nós detectamos o problema e encaminhamos os casos mais graves para atendimento. É assim que a gente resolveu trabalhar durante a pandemia com esse grupo específico.”

Para o professor, é essencial realizar o acompanhamento desses pacientes, a renovação das receitas, o ajuste de medicamentos e de condutas terapêuticas. “Nós observamos, especificamente com nossos pacientes pós-bariátricos, que 20% não estavam engajados em relação ao uso desses suplementos, não faziam ou abandonaram o uso, o que nos sugere que as medidas para o período pós-cirurgia não estavam sendo totalmente seguidas. Isso também nos dá uma média importante de que os cuidados [com o paciente] são essenciais para a manutenção da saúde dessa população ao longo da pandemia.”

Ouça entrevista na íntegra pelo player acima.


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