Destruição de monumentos é prática antiga

Na coluna desta semana, Marília Fiorillo comenta sobre os protestos que reacenderam a polêmica sobre a preservação da memória histórica

 26/06/2020 - Publicado há 4 anos

Na coluna Conflito e Diálogo desta semana, a professora Marília Fiorillo analisa a recente onda de destruição de monumentos e explica que a iconoclastia é bem mais antiga que os protestos estadunidenses, que encabeçaram o debate sobre a preservação da memória histórica. 

“Esta convicção”, explica a colunista, “da necessidade de se destruir ícones e imagens perniciosos remonta à era Bizantina e se firmou com o protestantismo e sua aversão ao culto de imagens sagradas”. Ela também cita, como exemplo, o Islamismo, que, a partir de certo momento, passou a considerar a reprodução de imagens um sacrilégio, inventando, assim, a “requintada arte dos mosaicos e arabescos para substituir o figurativo”. 

Marília comenta sobre a destruição de monumentos de ditadores, como Stalin e o romeno Ceausescu, Saddam Hussein em 2003 e Muammar Kadafi em 2011, lembrando da cena em que um libanês bate com o sapato, “o maior signo de desprezo”, na cabeça decapitada de uma das estátuas de Kadafi, dizendo “agora eu me sinto de novo um  homem”. “Quem não se sentiu comovido e solidário?”, questiona a colunista.

Ela cita ainda a destruição sistemática de sítios arqueológicos pelo Daesh, ou Estado Islâmico, como a destruição dos budas gigantes do século 4 esculpidos em rocha, no Afeganistão. “O Daesh destruiu e contrabandeou para colecionadores privados um universo de memória estética e histórica.” Sobre o sequestro de obras do Oriente para museus ocidentais, apesar dos questionamentos sobre a devolução aos países de origem, há uma certa unanimidade na necessidade de preservação da memória. 

Ela ainda dá, como exemplo, a A Pequena Sereia, famoso monumento em Copenhague, “campeã de revisionismos: já lhe cortaram a cabeça, repuseram outra com uma burca, em protesto à candidatura da Turquia à União Europeia, e depois substituíram a burca por um enfeite natalino cristão”.

E finaliza: “Estou mesmo é preocupada com o menino que faz xixi, o Manneken Pis, em Bruxelas. Essa estátua bem-humorada só tem 61 centímetros, mas, a continuar nesta batida, corre o risco de ser demolida sob a alegação de falocracia explícita”. 

Ouça a íntegra da coluna no player.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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