Treinadores esportivos dependem de medalhas para seguir carreira

Ana Lúcia Padrão dos Santos aponta que técnicos são negligenciados, afetando desempenho esportivo do País em jogos

 23/08/2019 - Publicado há 5 anos
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Três anos após os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o legado do megaevento para o Brasil ainda é tema recorrente de questionamentos e debates, tanto pela mídia quanto pela academia. Entre as discussões, a subutilização e a degradação das arenas olímpicas e os reais efeitos socioeconômicos no País. Um estudo da USP traça uma perspectiva pouco considerada nesse legado: os efeitos da competição na formação dos treinadores.

Foram mapeados eventos voltados à capacitação de técnicos esportivos e que tiveram os Jogos Olímpicos como temática, além de informações de 70 sites de federações esportivas, instituições de ensino superior do Rio de Janeiro e conselhos regionais e federal de Educação Física. “Para quem é treinador da seleção brasileira, se houver medalhas, há uma melhora na condição. Se perder, resta a culpa pela derrota do País. Como dizem, é uma caça às bruxas”, declara a professora Ana Lúcia Padrão dos Santos, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), ao Jornal da USP no Ar. De acordo com ela, essa mentalidade atrapalha o desenvolvimento de bons técnicos em diversas modalidades.

Ela é a responsável pelo estudo e entrevistou membros do Ministério do Esporte, pessoas ligadas à organização dos jogos, ao Conselho Federal de Educação Física e à Academia Olímpica Brasileira. “Fazer essas perguntas para pessoas em cargos importantes provocou uma reflexão nos próprios entrevistados, que têm poder de decisão. São pessoas em posições-chaves, percebendo que não consideraram a importância dos treinadores”, conta.

Existem vários fatores que interferem no sucesso esportivo de um país. De investimento financeiro até a ciência do esporte. A pesquisa de Ana Lúcia parte da premissa de que a formação de treinadores e a possibilidade de carreira profissional são fundamentais para o desempenho esportivo. “Então, conversamos com os conselhos nacional e estaduais de Educação Física, federações e confederações esportivas, com o intuito de aprimorar a educação dos treinadores”, esclarece. Tudo começou com o mapeamento do ensino superior carioca de educação física.

“Infelizmente, percebemos que o treinador é esquecido. E a trajetória dos técnicos corrobora os dados encontrados. Não houve um planejamento para valorizar esses profissionais”, defende a professora. De acordo com ela, as estruturas esportivas, esvaziadas depois dos jogos, são sintoma disso. “Resultados não vêm sem um bom orientador e as outras confederações que investiram em educação saíram à frente”, comenta.

“Treinadores passam a vida no esporte. Os atletas se dedicam à prática esportiva por um período. Técnicos vivem vários desses ciclos. Por isso, conhecem o esporte para além da experiência de um atleta ou gestor. Olhe nomes como Bernardinho e José Roberto, no vôlei”, indica a especialista. Em razão disso, ela defende que treinadores devem ter voz no desenvolvimento de políticas públicas. “Hoje, estão muito distantes”, argumenta.

Dois dos artigos da professora Ana Lúcia foram publicados na Olympic World Library. O primeiro deles fala da preparação dos técnicos para a Olimpíada do Rio de Janeiro e o outro analisa o legado dos jogos para o futuro dos treinadores e do esporte nacional.


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