O cinema brasileiro entra na pauta das discussões políticas. No clima polêmico deste final de julho, sobre as possíveis mudanças da Agência Nacional do Cinema (Ancine), ameaçada de extinção pelo presidente Jair Bolsonaro, que, logo depois, recuou na sua decisão, a professora Giselle Beiguelman comenta em sua coluna, Ouvir Imagens, o filme Divino Amor (clique no player acima).
“Sob a direção de Gabriel Mascaro, posso dizer que é um filme perturbador”, destaca. “A história se passa no Brasil em 2027, quando o País se tornou um espaço dominado pelas tecnologias de controle e pelo moralismo religioso. A festa popular principal não é mais o Carnaval, mas festas gospel, ultra-hightech, com luzes e som eletrônico, onde os fiéis se acabam nas pistas em glória ao Senhor. As praias já não são mais o que eram. As mulheres estão todas de roupas fechadas, com leggings, saias e blusas de manga comprida. Só os homens podem circular de sunga e sem camisa.”
A professora afirma que Divino Amor faz refletir sobre a realidade atual. “O filme mostra os fiéis sendo atendidos por um pastor em sistema de drive thru. Ao invés de receber seu Big Mac, recebem conselhos e da janela do carro têm direito a ‘download’ de hinos e em casos extremos podem ser encaminhados ao CAF – Centro de Atendimento aos Fiéis. Há uma total perda de limites entre público e privado.”
Ela explica que o filme é importante não só pelo alerta que faz em relação ao futuro próximo, mas também porque coloca em pauta uma discussão sobre o cinema brasileiro atual. “Gostaria de incidir sobre outro ponto: cinema é muito mais que indústria e emprego. Cinema é uma forma de pensar o mundo, como deixa claro o filme de Gabriel Mascaro.”
Quem quiser mais saber sobre Divino Amor acesse: www.desvirtual.com
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.