Seminário aborda Antonio Candido como crítico e professor

Evento em homenagem ao crítico literário ocorre de 5 a 9 de novembro, na Cidade Universitária

 01/11/2018 - Publicado há 5 anos
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Exposição em homenagem aos cem anos de Antonio Candido, instalada na Biblioteca Florestan Fernandes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, na Cidade Universitária – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

O Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada (DTLLC) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP promove, de 5 a 9 de novembro, o seminário Antonio Candido e a Literatura. O evento trata da obra do crítico literário e professor Antonio Candido (1918-2017). Haverá oito mesas-redondas, que vão reunir especialistas para discutir os temas preferidos do professor e seus pressupostos críticos, bem como autores sobre os quais se debruçou em ensaios que continuam inspirando novas gerações da crítica. Organizado pelos professores Maria Augusta Fonseca, Edu Teruki Otsuka e Ariovaldo Vidal, todos da FFLCH, o seminário é a quarta atividade programada em homenagem ao centenário (leia texto abaixo).

“Durante o ano foram realizados muitos eventos, muitas comemorações, homenagens ao próprio Antonio Candido e à sua obra. Este seminário tem um caráter simbólico de fechamento das atividades do ano”, afirma o professor Ariovaldo Vidal. Segundo ele, como muito já foi falado sobre Antonio Candido, o evento foi pensado de forma simples, reunindo somente docentes do departamento para conversar sobre a obra do crítico literário e professor de literatura. “É a nossa homenagem ao professor que criou o departamento, que permitiu antes e permite hoje aos professores seguir dando aulas de Teoria Literária e Literatura Comparada”, diz a professora Maria Augusta Fonseca.

A programação traz várias mesas temáticas, organizadas no período da tarde e divididas em dois blocos (às 14 horas e às 16h30), sempre com três palestrantes e um coordenador. A mesa de abertura, no dia 5 de novembro, a partir das 15 horas, tem uma dimensão geracional, ou seja, Candido lido por diferentes gerações do departamento, como diz Vidal. A professora aposentada Iná Camargo Costa, que também coordena o debate, faz a leitura de um texto inédito de Antonio Candido, Como e por que sou crítico, espécie de testemunho final do autor, que faleceu em maio do ano passado. Nesse depoimento, ele conta que, mesmo vivendo cercado por médicos, seu impulso foi sempre ler, “ler sem parar a partir de meus 6 ou 7 anos, inclusive textos sobre obras e autores, chegando a folhear desde cedo com prazer a História da Literatura Brasileira de Silvio Romero, o que talvez indique a predisposição misteriosa para a crítica”.

Exposição em homenagem aos cem anos de Antonio Candido mostra documentos e fotos do professor em vários momentos de sua carreira – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

O texto integra o livro Antonio Candido: 100 Anos (Editora 34), organizado por Maria Augusta Fonseca e Roberto Schwarz, que será lançado também no dia 5 de novembro, às 18 horas, durante o seminário. A obra reúne ensaios de mais de 30 autores nacionais e estrangeiros, como Alfredo Bosi, Davi Arrigucci Jr., Walnice Nogueira Galvão, Beatriz Sarlo, Sárka Grauová e Michael Löwy. A ideia do livro nasceu quando o crítico ainda estava vivo, em fevereiro de 2017, como conta a organizadora, e o texto foi um presente dado a ela, no final de 2016, em troca de uma entrevista que Antonio Candido havia prometido à professora e amiga. “A sua filha, Ana Luisa Escorel, gentilmente cedeu os direitos autorais desse texto”, informa Maria Augusta. E ressalta: “É um texto relevante na medida em que o próprio Antonio Candido declara seu caminho, sua formação”.

Na abertura do seminário, serão realizadas três palestras. A primeira é Antonio Candido: Pensamento e Afeto, com a professora Adélia Bezerra de Menezes, que foi aluna de Candido e também é autora de um dos artigos do livro. “Ele nos fez viver uma aventura intelectual cujo alcance, 50 anos atrás, nem poderíamos avaliar. Não deixou como legado somente uma maneira de pensar a literatura, mas de pensar o Brasil, de pensar a vida”, escreveu. Na sequência, o professor Jorge de Almeida fala sobre Galateas e Polifemos: Riachos de Literatura Comparada.

A terceira palestra, Antonio Candido e o Romance Brasileiro Antes da Formação, será proferida pelo professor Edu Teruki Otsuka, que vai discutir alguns artigos de Candido escritos nos anos 1940, nos quais são abordadas questões que só viriam a ser plenamente desenvolvidas mais tarde, no livro Formação da Literatura Brasileira, publicado em 1959. “Essas questões envolvem, entre outras coisas, uma reconstituição das linhas que explicassem o novo patamar qualitativo alcançado com a literatura dos anos 1930 e uma reflexão sobre os rumos históricos da sociedade, com vistas à participação das populações pobres na vida política do País”, comenta.

O professor Antonio Candido – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

Dando continuidade à programação, no dia 6 de novembro, o primeiro bloco de debates discute a poesia, ou Candido como leitor de poesia, e o segundo aborda a questão crítica de Antonio Candido nos dias de hoje, ou seja, uma mesa teórica sobre pressupostos da crítica do autor para o presente. No dia 7 de novembro, o assunto se volta para a literatura comparada, a literatura estrangeira e a narrativa brasileira. Na ocasião, a professora Maria Augusta Fonseca vai falar sobre a relação entre Antonio Candido e Oswald de Andrade. No dia 8 de novembro, a primeira mesa traz uma leitura de poetas, com o professor Vidal abordando o tema Do dois ao três em João Cabral em uma das palestras. Em outra mesa, serão analisados temas como o conceito de formação e como a formação da literatura brasileira foi pensada no contexto das literaturas africanas.

Ariovaldo José Vidal é professor de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH e um dos organizadores do Seminário Antonio Candido e a Literatura– Foto Cecília Bastos/USP Imagem

A mesa de encerramento, no dia 9 de novembro, às 15 horas, trará depoimentos de professores de outros departamentos da FFLCH que foram alunos de Antonio Candido. Aurora Bernardini (Departamento de Letras Orientais) falará sobre Minhas mais marcantes lembranças literárias como aluna e Jorge Schwartz (Departamento de Letras Modernas) abordará Bastidores de um inédito: a última visita, que incluirá a projeção de um manuscrito. Já a professora Maria Augusta fará a leitura de Excerto sobre Antonio Candido, da tese de livre-docência do professor Joaquim Alves de Aguiar.

Segundo o professor Edu Otsuka, “o seminário busca focalizar principalmente a atividade de Antonio Candido como crítico literário e professor de Literatura, o que não quer dizer que os aspectos políticos sejam deixados de fora, pois para ele tratava-se de alcançar um ponto de vista integrador na leitura de obras literárias, abrangendo as perspectivas estética, histórica, social e política”. E continua: “O seminário propõe a discussão de sua obra à luz do presente e pretende pensar maneiras de dar continuidade inventiva a suas concepções críticas. Antonio Candido foi professor, crítico literário, sociólogo, militante político e intelectual que jamais esquivou-se à intervenção pública, na defesa de posições democráticas e no combate a todas as formas de pensamento reacionário. Por isso, seu trabalho constitui uma referência particularmente significativa, dado o contexto político atual”.

O seminário Antonio Candido e a Literatura acontece de 5 a 9 de novembro, a partir das 14 horas (na abertura e encerramento, a partir das 15 horas), no Anfiteatro de Geografia e Auditório Milton Santos do Prédio de Geografia e História (Avenida Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, em São Paulo) e no Auditório István Jancsó da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (Avenida da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo). O evento é gratuito e as inscrições para quem quiser certificado de participação devem ser feitas no site do departamento.  Programação completa aqui. Mais informações pelo telefone (11) 3091-4312.

Várias homenagens ao

mestre Antonio Candido

O Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP criou uma comissão para o desenvolvimento de várias atividades relacionadas ao centenário de Antonio Candido. A comissão é integrada pelos docentes do departamento Maria Augusta Fonseca, Edu Teruki Otsuka e Ariovaldo Vidal, que também organizam o seminário Antonio Candido e a Literatura.

A primeira atividade proposta são os cursos voltados à discussão e estudo da obra de Antonio Candido. Neste ano foram programados dois cursos de pós-graduação, e haverá continuidade em 2019. A segunda atividade é a exposição Antonio Candido – Autor. Obra. Leitor, que fica em cartaz até o dia 22 de novembro, no saguão da Biblioteca Florestan Fernandes da FFLCH.
A mostra reúne edições da obra de Antonio Candido, várias dedicatórias de autores como Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, além de documentos, como materiais de aulas e apostilas.

A terceira atividade está relacionada ao lançamento de publicações, previstas para o final deste ano e início do primeiro semestre de 2019. A Revista Literatura e Sociedade está preparando um número especial com documentos e depoimentos, com o subtítulo Formação, História, Memória, reunindo artigos sobre a formação do DTLLC, como diz a organizadora Maria Augusta Fonseca, citando artigos de autores como João Alexandre Barbosa (1937-2006) e Davi Arrigucci Jr.
“São artigos sobre a história de Antonio Candido no departamento e sobre a história do departamento na vida dele”, informa o organizador Ariovaldo Vidal.

Também está prevista uma coletânea de ensaios do próprio Antonio Candido pela Editora Ouro Sobre Azul, do Rio de Janeiro. “Há muito material que não foi recolhido em livro. São artigos dispersos, publicados em jornais e revistas das décadas de 40 e 50”, diz o professor. E acredita muito provável que sejam publicados mais livros. “Por exemplo, há muitos depoimentos que Candido deixou sobre os amigos de geração, artistas, intelectuais e professores.”


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