Tecnologia na criação musical é tema de encontros em São Paulo

De caráter prático, evento sai do tradicionalismo instrumental e usa eletrônica para inventar e reproduzir sons

 02/02/2018 - Publicado há 6 anos
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Sistema sofisticado com diversos conteúdos sonoros que podem ser associados. Remete aos antigos sintetizadores construídos por meio de jumpers e plugs – Foto: Divulgação / Well Gomes

No decorrer deste mês de fevereiro, o Sesc Itaquera, em parceria com o artista multimídia Thiago Salas, realiza quatro encontros para desenvolver, debater e praticar conhecimentos adquiridos sobre a relação da música com os meios eletrônicos e digitais do cotidiano. O curso, denominado Introdução à Luteria Experimental Eletrônica, é baseado na cultura maker ou handmade, uma filosofia que incentiva os participantes a criarem seus próprios materiais e equipamentos conforme a necessidade — nesse caso, a busca pelos sons.

A luteria experimental, termo que dá nome aos encontros, é um conceito que chega para ampliar o universo musical. Antes, o luthier preocupava-se apenas com a construção e manutenção de instrumentos tradicionais. Com a era da tecnologia e o aumento do campo digital, os novos luthiers experimentais afastam-se da compra de materiais pré-fabricados e viram inventores, passando a criar materiais com função de gerar, sintetizar, processar e difundir sons.

“Em vez de adquirir um teclado, violão ou uma caixa de som para desenvolver uma música, os profissionais, com uso da tecnologia disponível, começaram a fabricar seus próprios sintetizadores e geradores, fazendo som através de suas invenções”, explica Thiago Salas, coordenador do evento.

Thiago Salas, mestrando em Sonologia na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – Foto: Divulgação / Well Gomes

Graduado em Música pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Salas faz mestrado em Sonologia na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Há nove anos na área, Salas comenta que a criação musical a partir do meio eletrônico vem crescendo exponencialmente nos últimos tempos e são essas criações que o especialista buscará passar nos encontros do curso. A dificuldade e complexidade dos exercícios estarão adaptadas aos alunos presentes.

“Nossa proposta aos encontros é bem aberta. Tudo irá depender dos conhecimentos prévios trazidos pelos alunos, durante os diferentes encontros, em relação a temas como engenharia de áudio, engenharia elétrica e música. Ninguém precisa ser especialista”, comenta.

Acessibilidade revolucionária

Na última década, o uso de computadores e celulares aumentou proporcionalmente às funcionalidades destes. Segundo estudo desenvolvido pelo Google, em 2012 apenas 14% dos brasileiros possuíam smartphones. Atualmente, o número ultrapassa os 62%, e tal equipamento pode funcionar como grande nicho de trabalho aos luthiers experimentais.

“Antes, com o monopólio das gravadoras, havia uma crise de qualidade de áudio, e apenas quem acessava tais empresas tinha oportunidade de produzir bom conteúdo. Hoje em dia, equipamentos e veículos de compartilhamento musical mudaram, tornando o meio mais acessível”, diz Salas. “Enxergo uma clara mudança do paradigma vigente, mas não uma revolução. O que podemos indicar é que há alguns anos atrás pouca gente se envolvia na luteria experimental eletrônica no Brasil. Atualmente, o número aumentou.”

Caixas acrílicas com circuitos eletrônicos internos baseados em modulação de amplitude, responsáveis por sintetizar sons – Foto: Divulgação / Well Gomes

Para Salas, a saída também se mostra interessante em termos de baixo custo. Além disso, as mudanças incentivam as escolas de música a repensarem o tradicional jeito de ensino proposto. Em vez de inventar músicas, começa-se a pensar em inovar os instrumentos responsáveis pela produção. O desenvolvimento parte das raízes para abertura de novas possibilidades ao universo musical.

O curso Introdução à Luteria Experimental Eletrônica, com Thiago Salas, acontece nos dias 3, 17, 18 e 24 de fevereiro, das 14 às 17 horas, no Espaço de Tecnologias e Artes do Sesc Itaquera (Avenida Fernando do Espírito Santo Alves de Mattos, 1.000, Itaquera, em São Paulo). Os encontros são gratuitos. Para mais informações, ligue (11) 2523-9200 ou acesse o site.


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