“Não se nasce mulher, torna-se mulher”. A frase de Simone de Beauvoir foi escolhida por Maria Arminda do Nascimento Arruda, segunda diretora da história da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, ao tratar dos níveis de igualdade da FFLCH em relação ao resto da Universidade. “Não se nasce Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, torna-se, quando a instituição for capaz de se pensar de forma integrada”, disse, parafraseando a escritora francesa – importante nome para o feminismo contemporâneo que questiona padrões e opressões de gênero em seu livro O Segundo Sexo, o qual Maria Arminda afirma ter lido com apenas 15 anos de idade.
Os assuntos debatidos no evento Mulher, Academia e Política, realizado nesta quinta-feira, 8 de março, na FFLCH, transpassam o papel da mulher em suas atuações e debatem as opressões diárias, principalmente dentro de universidades, e como esse jogo de poder mantém as mulheres em cargos menores na hierarquia profissional.
Para discutir questões de igualdade de gênero nos âmbitos profissionais e acadêmicos, foram convidadas Eva Blay, primeira mulher a ocupar o cargo de professora titular do Departamento de Sociologia da FFLCH e coordenadora do Escritório USP Mulheres, e também Lena Lavinas, professora titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em Políticas Públicas e Programas Sociais.
“A participação das mulheres na universidade, entendida não como uma inserção funcional ou profissional exclusivamente, é uma participação ainda muito peculiar. Não é qualquer participação, é uma participação de natureza política”, disse Maria Arminda, em sua fala de abertura da conferência.
O debate precisa ser feito
Segundo a professora Eva Blay, a discussão do feminismo é uma das principais pautas dos últimos anos e a USP, sendo parte da sociedade, deve se abrir para o debate da igualdade de gênero. Ela comentou que a discussão do feminismo entrou na USP a partir da pesquisa, disciplina acadêmica e como reflexo dos movimentos sociais. “Na minha chegada à Universidade, o tema estava começando a ser debatido, estava na literatura, na discriminação, então sentiu-se uma necessidade de uma disciplina com embasamento teórico e uma articulação com o movimento de mulheres contra a ditadura militar e movimentos sindicais.”
Eva ainda questionou o Conselho Universitário da USP na abordagem de discussões fundamentais para a emancipação feminina. “Por que não podemos discutir aborto na Universidade? Não é o tema? Não faz parte da nossa vida? Por que nós não podemos discutir a situação das mulheres perseguidas? Por que não podemos discutir a mortalidade materna?”
“Neste ano, eu acho que o 8 de março tem um gostinho diferente, raras vezes as vozes das mulheres se fizeram ouvir de forma tão sincronizada e potente em todas as atitudes como nos últimos dois anos. Isso acontece em meio a uma progressão desconcertante de forças ultraconservadoras e em uma conjuntura econômica muito desfavorável”, disse Lena Lavinas.