O vibrante e multicultural Bom Retiro entra em cena

Musical faz temporada de 3 a 18 de agosto no Teatro da USP, com apresentações de sexta a domingo, às 20 horas, e entrada gratuita

 01/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 05/08/2019 as 12:30
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O espetáculo Bom Retiro Meu Amor Ópera Samba narra a história do bairro do Bom Retiro, em São Paulo, recheado de músicas do cancioneiro popular e figurino colorido – Foto: Graciela Rodriguez

Conhecido pelo seu comércio, o bairro do Bom Retiro é originário da Chácara do Bom Retiro, que no século 19 era local de passeio de famílias ricas. Bairro tradicionalmente fabril, abrigou imigrantes vindos de diversos países, abarcando uma imensa diversidade cultural. Para contar sua história, o grupo Teatro Popular União e Olho Vivo (Tuov) estreia, neste sábado, dia 3, o musical Bom Retiro Meu Amor Ópera Samba, no Teatro da USP (Tusp). Durante a temporada, que vai até 18 de agosto, serão distribuídos gratuitamente cerca de 300 volumes do livro Em Busca de um Teatro Popular, que retrata os 53 anos do grupo, desde seu início, em 1966, até hoje, resgatando sua trajetória dedicada à pesquisa do teatro popular.

O espetáculo é resultado de uma ampla pesquisa coletiva sobre o bairro paulistano, que acolhe o grupo há 37 anos. “O Bom Retiro é um bairro diferenciado de São Paulo, que teve a participação das colônias japonesa, italiana, boliviana e judaica”, afirma o coordenador do grupo, César Vieira (nome artístico de Idibal Pivetta), que também dirige o espetáculo, em parceria com Rogério Tarifa. Segundo ele, são narrados vários episódios que marcaram a história do bairro, como a fundação do Sport Clube Corinthians Paulista e da Torcida Organizada e Escola de Samba Gaviões da Fiel, além de acontecimentos como o trabalho escravo nas “oficinas de suor”, nome dado aos pequenos espaços em que as pessoas trabalhavam em condições insalubres.

Foram mais de dois anos de pesquisa, como conta Graciela Rodriguez, também coordenadora do grupo e artista plástica. “A ideia surgiu na comemoração dos 50 anos do grupo, em que se formaram várias comissões, uma delas de dramaturgia, e na qual ficou decidido que era hora de contar a história do bairro que abrigava a companhia”, afirma Graciela. O grupo foi contemplado na 31ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, e a equipe de criação foi a campo para uma imersão na história e no cotidiano da região. Foram realizadas pesquisas bibliográficas, levantamento documental de registros históricos em jornais, livros, teses e dissertações acerca do bairro, além de fotografias antigas e recentes. Sua cultura, história e problemáticas serviram de base para discussão em oficinas, debates e reflexões.

O grupo Teatro Popular União e Olho Vivo comemora 53 anos de trajetória e 37 anos de sede no bairro do Bom Retiro – Foto: Graciela Rodriguez

O resultado é um teatro de revista, com esquetes que contam fatos importantes, recheados com muita música do cancioneiro popular, todas autorais, além de um figurino bem colorido, marca registrada do grupo. “Não há uma preocupação cronológica, mas traz uma história que não é contada nos livros nem em salas de aula”, ressalta Graciela. Segundo ela, há citações de Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês William Shakespeare, que se misturam ao conhecimento popular, criando uma narrativa lírica e poética. Entre as cenas estão a do incêndio ocorrido na Estação da Luz, dois dias antes do término da concessão para a companhia inglesa São Paulo Railway, em 1946, das mulheres em situação de prostituição – na Rua Aimorés, no século passado, e atualmente no Parque da Luz –, dos catadores de lixo e até mesmo dos habitantes da cracolândia, tão próximos do Bom Retiro.

O público ainda pode visitar parte da exposição que foi montada nos 50 anos da companhia, reunindo material inédito de fotos, vídeos e depoimentos de várias personalidades, como o sociólogo, crítico literário e professor Antonio Candido, a pesquisadora e professora Iná Camargo e o cantor e compositor Zé Renato. A mostra, com curadoria do arquiteto Alexandre Benoit, revela também a carreira internacional do grupo, que vai desde os esforços pela interligação de companhias teatrais latino-americanas até a repercussão de montagens e roteiros em países como França, Itália, Polônia e Egito. Retrata ainda o engajamento político do coordenador e também advogado César Vieira, que teve intensa militância no período da ditadura, lutando pela liberdade de presos políticos e pela memória dos desaparecidos no regime militar.

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O espetáculo Bom Retiro Meu Amor Ópera Samba ocorre de 3 a 18 de agosto, sexta a domingo, às 20 horas, no Teatro da USP (Tusp), localizado no Centro Universitário Maria Antonia da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, em São Paulo). Entrada grátis. Os ingressos serão distribuídos uma hora antes de cada sessão. Capacidade: 80 lugares. A exposição sobre o Teatro Popular União e Olho Vivo (Tuov), também gratuita, pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3123-5222 e neste link.


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