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Oque causa o autismo? Como ele se manifesta? E qual é a melhor maneira de lidar com esse transtorno? As respostas para essas perguntas são complexas — às vezes, inexistentes — e variam de pessoa para pessoa. “Cada autista é um autista”, diz a pesquisadora Patricia Braga, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. “São muitos autismos, então é difícil generalizar.”
Patricia será uma das palestrantes do próximo USP Talks, no dia 29 de outubro, ao lado da psiquiatra Rosa Magaly de Morais, pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) do Hospital Sírio-Libanês e colaboradora do Programa do Transtorno do Espectro Autista (Protea) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O evento vai tratar das últimas descobertas relacionadas ao autismo, incluindo possíveis causas, métodos de diagnóstico e seleção de tratamentos.
O evento é gratuito e aberto ao público, das 18h30 às 19h30, no auditório do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Também haverá transmissão ao vivo pelo Facebook. Veja os detalhes abaixo ou aqui.
Autismo, na verdade, é hoje uma abreviatura de Transtorno do Espectro Autista (TEA), termo “guarda-chuva” que os especialistas usam desde 2013 para classificar casos que se caracterizam por dificuldade de comunicação, dificuldade de interação social e interesses e comportamentos restritos ou estereotipados (repetitivos). Essas são três características que todo autista tem em comum, mas a maneira e a intensidade com que elas se manifestam variam enormemente de uma pessoa para outra, assim como as causas e as comorbidades associadas ao transtorno.
Por isso, nenhum caso de autismo é igual ao outro, e todos exigem uma intervenção personalizada, baseada nas características individuais de cada paciente, dizem as especialistas.
Causas
Não há dúvida de que o autismo tem raízes genéticas, mas a ciência está cada vez mais atenta, também, à possível influência de fatores “ambientais” (não genéticos) na geração do transtorno. Por exemplo, uso de álcool, drogas ou infecções contraídas durante a gestação. Partos prematuros também são considerados um fator de risco para o autismo, segundo pesquisas recentes.
“Qualquer coisa que interfira na formação do sistema nervoso central é preocupante”, afirma Patricia. Ela coordena o projeto A Fada do Dente, que utiliza células-tronco diferenciadas da polpa do dente de leite para estudar o desenvolvimento das células neuronais de crianças autistas em laboratório.
Vários estudos mostram que o cérebro dos autistas tem alterações na sua morfologia e arquitetura celular, que fazem com que ele funcione de uma forma diferente, “superativada”. “É como se eles estivessem sempre em alerta”, descreve Patricia. Uma das pesquisas desenvolvidas com as células da Fada do Dente, por exemplo, mostrou que os neurônios de crianças autistas têm menos ramificações (fazem menos sinapses) que os de crianças não autistas; e que seus astrócitos (outro tipo de célula cerebral) produzem maiores quantidades de uma molécula inflamatória, chamada interleucina 6 — o que pode, também, estar influenciando a expressão do transtorno. Estudos recentes sugerem que o autismo possa ser uma doença autoimune, envolvendo processos inflamatórios no cérebro.
Prevalência
Não há estatística oficial sobre a prevalência do autismo no Brasil, mas estima-se que entre 1% e 2% da população mundial tenha o transtorno. A referência mais citada costuma ser a do Centers for Disease Control (CDC) dos Estados Unidos, que mostra um aumento expressivo da prevalência do autismo entre crianças na população americana: de 1 em cada 150 crianças, no início dos anos 2000, para 1 em cada 59 crianças, em 2018.
O que nos leva a perguntar: será que há uma “epidemia de autismo” em curso? Esse será um dos temas da palestra de Rosa, especialista no atendimento e pesquisa de transtornos do desenvolvimento (especialmente TEA) em crianças e adolescentes.
O diagnóstico definitivo do autismo costuma ser feito por volta dos 3 anos de idade, apesar de alguns sinais característicos do transtorno serem muitas vezes perceptíveis já no primeiro ano de vida. “Os critérios de diagnóstico ainda são limitados para crianças muito jovens”, explica Rosa. Como o quadro clínico é muito variado e o autismo frequentemente vem acompanhado de outros transtornos, o diagnóstico nem sempre é óbvio.
Não há cura para o autismo, mas há uma série de intervenções terapêuticas que podem ser desenvolvidas para minimizar os sintomas e reduzir o impacto do transtorno na qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias. Um fator crucial é o tempo: quanto mais cedo se iniciar esse tratamento, melhor — especialmente nos primeiros anos de vida, em que o cérebro ainda tem uma plasticidade de desenvolvimento elevada.
Médicos e pesquisadores alertam fortemente contra o uso de tratamentos “alternativos”, como a famigerada “Solução Mineral Milagrosa” (ou MMS), que, além de não trazer nenhum benefício (e ser ilegal), pode causar danos graves à saúde da criança.
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Serviço
O USP Talks é uma iniciativa que busca aproximar a comunidade científica e acadêmica da sociedade, por meio de eventos mensais em que especialistas são convidados a conversar com as pessoas sobre temas que estão em evidência no noticiário nacional. Para acompanhar a programação e assistir aos eventos anteriores, siga nossas páginas no Facebook , Twitter e YouTube. O projeto conta com apoio da FUSP e da Nic.br.
A entrada é gratuita e organizada por ordem de chegada. A bilheteria do Masp inicia a distribuição de ingressos às 16h30, um por pessoa, até às 18h30 ou até se esgotarem, o que ocorrer primeiro. Mesmo que você retire seu ingresso, precisa estar na porta do auditório até 18h29. A partir das 18h40, as pessoas que estiverem presencialmente aguardando em lista de espera poderão ocupar os lugares vagos.
Também serão distribuídos ingressos na bilheteria online do Masp, que pode ser acessada por este link.
O evento tem duração de uma hora, com duas apresentações de 15 minutos, mais meia hora de debate com o público.
Agenda
O próximo evento será sobre alimentação saudável, em novembro, seguido de um evento especial sobre o futuro do Planeta, em dezembro. Veja a programação completa aqui.