“A gente precisa ser capaz de detectar um novo agente no começo da epidemia; isso precisa acontecer em todos os lugares do mundo”, diz a pesquisadora Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina e do Instituto de Medicina Tropical da USP. “Isso depende de tecnologia.”
Especialista em doenças infecciosas e epidemiologia molecular, Ester foi a convidada desta semana do programa Você e o Pesquisador, uma série de conversas ao vivo com professores da USP, organizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade, com o objetivo de mostrar a importância da ciência para a sociedade.
Logo que as notícias do surgimento de uma nova virose na China começaram a aparecer na internet, em dezembro de 2019, ela pressentiu que se tratava de uma ameaça séria à saúde pública, que poderia chegar ao Brasil. O que mais a impressionou — e assustou — foram as imagens de hospitais sendo construídos às pressas em Wuhan para atender aos doentes. Nenhum governo faria isso se não fosse algo muito sério, pensou Ester; e logo começou a preparar seu laboratório para a pandemia que estava por vir. Seu grupo foi o primeiro a sequenciar o genoma do novo coronavírus no Brasil, e desde então vem rastreando geneticamente a evolução e a dispersão do vírus pelo País.
A maioria dos governos europeus, infelizmente, não enxergou a ameaça da mesma forma. “Acho que o Ocidente valorizou pouco o que estava acontecendo na China”, disse a professora. A resposta do Brasil até que foi eficiente no início, segundo ela, o que ajudou a achatar a curva de infecções e mortes em várias cidades do País. “O que a gente está vendo é a consequência das nossas iniciativas”, disse. A saída do ministro Luiz Henrique Mandetta da pasta da Saúde (em abril), porém, acabou por desencadear uma falta de coordenação nacional no combate à pandemia, que causou muitos problemas ao País, segundo Ester. Ela citou o caso de Manaus como um exemplo do que pode acontecer se a pandemia não for enfrentada de forma adequada. Um estudo coordenado por ela estima que 66% da população da cidade já foi infectada pelo vírus SARS-CoV-2 e nem isso foi suficiente, ainda, para garantir a tão desejada “imunidade de rebanho” àquela população.
A série Você e o Pesquisador é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, vinculada à exposição virtual Você e a USP – A Universidade de São Paulo sempre presente na sua vida, que busca mostrar a contribuição e o impacto das pesquisas científicas produzidas pela USP para a sociedade brasileira ao longo dos anos. As entrevistas acontecem a cada 15 dias e as gravações ficam disponíveis no Canal USP.
Veja a íntegra do evento abaixo.
.
https://youtu.be/eJkUVpnQp7c