Em parceria com a USP, indígenas aprendem a produzir podcasts para divulgar sua cultura

Jovens pataxós Hãhãhães vão passar de simples usuários das novas tecnologias a comunicadores sociais e divulgadores da cultura indígena brasileira

 14/04/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 15/05/2022 as 14:36
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Comunidade Pataxó Hãhãhãe vai trabalhar com podcasts – Foto: Divulgação/Kamaiura Anama

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O que nasceu para orientar a população indígena sobre a pandemia da covid-19 se transformou em meio de resgate e preservação da cultura desses povos. Trata-se do projeto
Embaixadores do Povo Indígena, idealizado pela professora Carolina Aires, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, em parceria com a comunidade indígena Pataxó Hãhãhãe (sudeste da Bahia) e a Rádio USP.

Segundo a professora Carolina, o objetivo inicial era orientar o povo indígena a produzir e distribuir podcasts como recurso para informar a aldeia quanto à prevenção do coronavírus e o combate da desinformação sobre as vacinas. Mas, a esses temas, os membros indígenas do projeto e novos produtores de podcast devem acrescentar outros relacionados à cultura e tradição de seu povo.

Hemerson Pataxó, um dos integrantes do projeto – Foto: Divulgação

Esses representantes da comunidade Pataxó Hãhãhãe vão usar as ferramentas digitais para disseminar conteúdos com “linguagem de indígena para indígena”. Conteúdos estes que, enfatiza Carolina, importam “tanto pela questão do apagamento cultural, quanto pela briga pelo território”; temas abordados no Embaixadores do Povo Indígena e que resultarão em produções “com linguagem de indígena para indígena”, acrescenta Hemerson Pataxó, um dos integrantes do projeto.

O trabalho que vêm realizando na comunidade, conta o pataxó, de preservar e divulgar a cultura indígena, é importante porque envolve, principalmente, as gerações mais jovens; consumidores das novas tecnologias, os jovens agora serão produtores de podcasts com a possibilidade de “se aprofundarem mais e mais na sua história“. O líder indígena avalia que as redes sociais vêm demandando cada vez mais tempo dos jovens, tempo que “poderiam estar em contato com os anciãos”, ouvindo mais sobre os costumes e tradições.

Mas, ao participar do projeto, acredita o pataxó, esses jovens devem colaborar com o fortalecimento da cultura e aprofundamento da história de seu povo. Como já estão nas redes sociais, agora poderão usar a “ferramenta com uma riqueza maior de cultura e entretenimento”, completa.

Resgate e divulgação cultural indígena brasileira

O registro das tradições e culturas brasileiras é realizado desde o tempo da colonização, porém com informações majoritariamente dos europeus. Segundo os historiadores, os documentos produzidos pelos brancos apresentam déficit relevante quanto à história dos índios no Brasil.

À falta de informação histórica desses povos, argumentam os organizadores do projeto Embaixadores do Povo Indígena, soma-se a globalização que adentrou as aldeias indígenas brasileiras, dificultando ainda mais a preservação de costumes e crenças, com perdas para a herança histórica do próprio País.

Assim, justificam a criação do projeto como um trabalho realizado on-line em que os participantes orientam alguns membros do povo Pataxó Hãhãhãe na produção de roteiros, de áudios no formato de podcast, de marketing e divulgação do material e, também, quanto ao melhor uso das redes. Para tanto, contam com o auxílio de professores da comunidade.

O primeiro grupo de jovens a participar do projeto são alunos do colégio indígena da comunidade Pataxó Hãhãhãe que são orientados a utilizar as ferramentas de maneira mais dirigida ao propósito do projeto. Jovens estes incentivados na busca e aprofundamento cultural tanto para a produção do material quanto para repassar a orientação a outros jovens da aldeia. Os planos agora, adiantam, além de começar efetivamente as produções, são trazer os professores indígenas para o projeto.

Ouça no player abaixo entrevista com a professora Carolina Aires, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP, e o indígena Hemerson Pataxó.

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