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Desde 2016, professores da USP, em São Carlos, já levaram três turmas para conhecer a cidade de Mariana, em Minas Gerais, onde ocorreu o mais grave desastre ambiental da história provocado por vazamento de minério. A proposta é que os estudantes, que estão no primeiro ano do curso de Engenharia Ambiental, observem de perto os efeitos da tragédia.
“Estudamos os impactos ambientais em suas múltiplas dimensões: sociais, econômicas, de saúde pública, sobre os ecossistemas aquáticos e terrestres etc. Essa visita traz discussões sob o ponto de vista histórico e socioeconômico da mineração no Brasil”, explica o professor Carlos Roberto Monteiro de Andrade, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP. Junto ao professor Marcel Fantin, ele ministra a disciplina para estudantes da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).
Durante a viagem didática, como é chamada a atividade em campo, os alunos têm a oportunidade interagir com os diversos atores sociais envolvidos no desastre – famílias, agentes públicos, jornalistas, pessoas de ONGs, entre outros – e ter uma dimensão da complexidade de problemas envolvidos em sua futura atuação profissional.
Embora na área de engenharia as questões técnicas costumem ser o foco, estudantes de Engenharia Ambiental precisam desenvolver um olhar crítico sobre tópicos de natureza social. “Uma reflexão que sempre colocamos aos alunos é que a qualidade e responsabilidade do trabalho deles já começam na graduação. Quanto menos rigor, quanto menos legislação ambiental, mais danos à população e ao ambiente e menos emprego para o engenheiro ambiental”, afirma o professor Marcel, que tem formação em Direito e em Política e Administração de Recursos Minerais.
O rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana ocorreu em novembro de 2015, provocando 19 mortes e atingindo o Rio Doce com milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro.
“Por dispor de recursos minerais fartos e diversos, o Brasil é o segundo maior produtor de minério de ferro, que é vendido praticamente sem qualquer beneficiamento. Esse processo mostra uma dependência estrutural do Brasil em relação a esse produto, mas, sobretudo, o poder da empresa de mineração em definir todos os critérios de implantação de suas plantas industriais, também definindo quais serão as normas que regerão ela própria”, critica o professor Carlos Andrade, formado em Ciências Sociais e em Arquitetura. “Assim como Brumadinho, essa é uma cidade completamente controlada pela Vale”, lamenta.
Sob o ponto de vista do princípio da prevenção, Marcel destaca que, após a privatização da Vale, questões econômicas passaram a prevalecer sobre a segurança. “A lógica do economista passou na frente da lógica do engenheiro de minas e do geólogo. Uma empresa negociada em bolsa passa a maximizar os lucros, o que está ligado a uma série de fatores, que vão desde a otimização da produção até, por exemplo, a redução nos investimentos em segurança de barragens.”
Adaptado de Tatiana Zanon / Assessoria de Comunicação do IAU