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“No mundo, mais de 50 milhões de crianças e adolescentes estão com obesidade. No Estado de São Paulo, mais de 30 mil crianças estão com obesidade nesse momento. E a tendência é que isso piore durante os próximos anos porque infelizmente existem poucos programas de assistência e prevenção à obesidade”, informa a professora e endocrinologista Louise Cominato, do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), acrescentando ainda que a previsão é de que, em 2030, esse número alcance 250 milhões de crianças. “No Brasil 15% das nossas crianças estão acima do peso”, chama a atenção.
Além disso, como complementa a professora Ruth Rocha Franco, também do Instituto da Criança da FM, dos 42 países que têm mais jovens com obesidade, sete são países desenvolvidos e todos os outros são países subdesenvolvidos, e o Brasil está em 5º lugar. “Infelizmente a obesidade infantil no nosso país é uma das maiores do mundo e isso é bastante alarmante.” Essas afirmações integram o primeiro episódio, intitulado Crianças de Peso, do podcast O Cientista não Morde, produzido pela FMUSP, com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU).
Como lembra a professora Ruth, as causas da obesidade são multifatoriais. Além da inatividade física e alimentação inadequada, existem os fatores genéticos, ambientais e socioculturais. Para a professora, a influência do ambiente é um dos grandes fatores que contribuem para o crescimento rápido da obesidade. Além disso, diz, a questão sociocultural também contribui para esse aumento. “Sabemos que as pessoas de baixa renda são as que mais convivem com a obesidade. Elas têm menos acesso a alimentos saudáveis […], praticamente tem carboidratos simples, alimentos que nutricionalmente não têm valor”, comenta, justificando o agravamento da obesidade infantil. Em relação ao aspecto nutricional, ainda destaca que os alimentos ultraprocessados são mais baratos e têm uma palatabilidade muito grande, já que são ricos em açúcares e gorduras. “O paladar das crianças é ávido por açúcar […] é por isso que pedimos para não introduzir esses alimentos antes de dois anos”, alerta.
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O Cientista não Morde
Idealizado e apresentado pelos docentes Bruno Gualano e Hamilton Roschel, do Centro de Medicina do Estilo de Vida da FMUSP, o podcast O Cientista Não Morde traz assuntos do cotidiano, pelo viés da ciência. A cada episódio, especialistas renomados em suas áreas de atuação compartilham informações importantes para a comunidade. No total serão produzidos sete episódios – quatro deles já estão no ar: Crianças de peso, O cientista do esporte também não morde; E o idoso, como anda?; Descasca ou desembala?. Segundo o professor Bruno, a ideia surgiu da necessidade de comunicar a ciência produzida dentro da Universidade para a comunidade em geral.
“É muito comum que o conhecimento produzido pelas cientistas circule somente entre os pares, em congressos e revistas especializadas. Por isso muitas pessoas têm dificuldade em perceber como a ciência está em tudo e as toca de algum modo, seja nos alimentos que consumimos, nas tecnologias que facilitam nosso dia a dia, ou nas vacinas e medicamentos a que temos acesso”, explica. Para o professor, “a valorização social do trabalho do cientista e, por conseguinte, da Universidade, passa necessariamente pela divulgação dos avanços da ciência às massas, numa linguagem acessível e convidativa”. Além disso, “o cientista não pode ser mais visto como um ser apartado da sociedade, que a vê de cima do olimpo, com ares sobre-humanos”, espera, acrescentando que “o cientista tem opiniões, crenças, ideologias, acerta e erra (muito!); daí o título do podcast, que nos humaniza um pouco mais”.
O objetivo principal do projeto é justamente popularizar a ciência, reitera o professor. “Fazemos isso pela discussão de assuntos cotidianos, alguns polêmicos, sempre sob um olhar científico, com convidados que dedicam suas carreiras a esses temas.” Os roteiros, segundo ele, são pouco engessados, visando a estimular um bate-papo natural, porém pautado pela evidência científica. Sobre a escolha dos temas desta primeira temporada, informa que a seleção foi realizada em virtude do impacto social que eles têm, e também considerando a diversidade dos assuntos, “o que vai ao encontro da noção de que a ciência está presente em todos os cantos das nossas vidas”.
Clique nos players a seguir para conferir dois episódios:
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Primeira temporada
Além desse primeiro episódio sobre obesidade infantil, também já estão disponíveis outros três. O Cientista do Esporte também não morde, com Ana Carolina Corte (com doutorado e pós-doutorado na USP em Medicina do Esporte) e Emerson Franchini (professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP), que contam como a ciência pode contribuir para a evolução dos atletas. E o idoso, como anda?, que mostra o que a ciência pode fazer para melhorar a saúde e o bem-estar durante o envelhecimento, com Wilson Jacob Filho, professor de Geriatria da FMUSP, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas/FMUSP e diretor da unidade de Cardiogeriatria do Instituto do Coração (Incor/HC/FMUSP). E Descasca ou desembala?, no qual a nutricionista Fabiana Benatti e o engenheiro de alimentos Paulo Sobral debatem os riscos dos alimentos ultraprocessados na saúde coletiva.
Outros três episódios já estão programados: Joguinho não, mãe!, em que o especialista em adolescência Benito Loureço desmistifica os males e as virtudes dos jogos eletrônicos; Pessoas trans existem, que sob o olhar da ciência, discute de forma clara e direta questões de identidade de gênero e transexualidade, com o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Núcleo de Psicologia e Psiquiatria Forense do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; e Gordofobia, em que “a culpa e a discriminação são fardos que a pessoa com obesidade carrega”, como conta Fernanda Scagliusi, especialista em estigma de peso.
Acompanhe todos os episódios pela plataforma Spotify neste link.