.
Era um dia abafado de primavera quando a chuva chegou no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), em São Paulo, trazendo frescor para os 360 estudantes de escolas públicas que participavam de uma gincana ao ar livre. As nuvens, no entanto, não foram capazes de esconder o sol, e o encerramento da edição de 2018 do Vivendo a USP desenrolou-se até sua premiação simbólica.
A ação de extensão universitária promove, desde 2011, visitas monitoradas à Universidade. Idealizada pela professora e pesquisadora do Instituto de Física (IF) da USP, Vera Bohomoletz Henriques, as atividades contam com o apoio de docentes e alunos da USP. “Acreditamos que há uma necessidade de aproximar a escola pública da Universidade”, explica Vera.
Os espaços educativos visitados são decididos previamente em reuniões de capacitação dos professores das escolas participantes e o trabalho com os estudantes é desenvolvido ao longo do ano.
Vinicius está no 9º ano do ensino fundamental 2 e participa da ação pela segunda vez. “Durante o ano, fomos ao Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), ao Museu de Arte Contemporânea (MAC) e aos Institutos de Química (IQ) e de Física (IF) da USP. As minhas atividades favoritas foram de química porque pude manusear os experimentos”, conta o aluno da E.E. Walker da Costa Barbosa, em São Bernardo do Campo.
Cássia, professora da mesma escola, ressalta a mudança de postura na sala de aula. “Temos alunos que eram extremamente indisciplinados e, por conta do projeto, criaram um senso de responsabilidade. Como são alunos de periferia, o espaço da USP era considerado inatingível, mas eles percebem que são capazes de estar aqui e participar.”
Engajamento dos participantes
Em 2018, nove escolas da rede estadual dos ensinos fundamental e médio integraram as atividades. Os colégios são escolhidos a partir da participação de seus professores nos Encontros USP Escola. O programa oferece gratuitamente, desde 2007, cursos de atualização para educadores de diversas disciplinas do ensino básico.
“O critério para permanência no projeto é o engajamento dos professores e de seus alunos no projeto como um todo. Já tivemos escolas excluídas por falta de envolvimento”, destaca Vera Bohomoletz.
Cada colégio pode levar 40 estudantes para as atividades e os selecionados recebem a função de multiplicar o conhecimento assimilado para suas escolas.
A professora Kátia, da E.E. Professor Mario Manoel Dantas de Aquino, em Ferraz de Vasconcelos, explica o comprometimento dos estudantes. “Os alunos se sentem privilegiados e o que aprendem repassam para os outros”, conta.
Para concluir a ação, anualmente, é realizada uma gincana que reúne todas as escolas integrantes. Durante o dia, os alunos são divididos em grupos e participam de uma competição. Vence quem acertar o maior número de questões, baseadas nos conteúdos adquiridos ao longo do ano, nas visitas aos espaços da USP.
Estudar em uma universidade pública
Além da possibilidade de compartilhamento de conhecimento, o Vivendo a USP representa a inclusão da universidade pública nos projetos de vida dos estudantes envolvidos. “O objetivo é apresentar ao estudante a possibilidade, dada a distância de sua realidade familiar, de continuar seus estudos numa universidade pública”, explica Vera Bohomoletz.
É o caso de Maria Eduarda, da E.E. Lauro Gomes de Almeida, em São Bernardo do Campo, que participou da ação pela primeira vez este ano. “Decidi que quando terminar a escola, quero estudar medicina na USP”, revela a aluna do 8º ano.
“O fato de estar dentro da Universidade, vivenciar todos os espaços, ter contato com professores e monitores com quem eles conversam, trocam ideias e fazem perguntas, estimula bastante o interesse deles virem para cá”, relata Luís, professor da E.E. Santo Dias da Silva, no Jardim Maringá. “Já estamos colhendo frutos do projeto, com ex-alunos sendo aprovados na USP ”, afirma.
Realizada pelo IF entre 2011 e 2018, a ação Vivendo a USP passa a ser realizada, a partir de 2019, pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP e faz parte do programa USP Abraça Escola.
Bianca Kirklewski, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária