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“Quando ligaram o aparelho e eu escutei a voz das crianças… Aí o meu coração ó…” (nesse momento a trabalhadora rural Maria de Fátima Lacerda, de 56 anos, leva a mão até o lado esquerdo do peito e simula a taquicardia que sentiu quando a equipe de fonoaudiologia ligou os aparelhos auditivos dela)
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Aqui não tem farmácia, dentista ou fonoaudiólogo. Estamos falando de Calama, uma comunidade ribeirinha com cerca de 3 mil habitantes, distrito da capital Porto Velho, em Rondônia. O acesso é via barco, navegando 12 horas pelo Rio Madeira até quase a divisa com o Amazonas. Quando precisam desse tipo de atendimento, os moradores precisam ir a Porto Velho. A passagem custa R$ 120,00 ida e volta, valor muito alto para a maioria deles.
Desde 2013, sempre no mês de setembro, essas dificuldades são amenizadas quando um grupo da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP chega à comunidade. Trata-se da Expedição Ribeirinhos do Projeto FOB USP em Rondônia. Neste ano, a 4ª expedição ocorreu entre 1° e 10 de setembro. Eles saíram de Bauru, interior de São Paulo, e percorreram cerca de 3 mil quilômetros de ônibus até Porto Velho. De lá, pegaram um barco até Calama. Foram 72 horas de viagem até a comunidade ribeirinha. Os 246 atendimentos foram realizados dias 5, 6 e 7, sendo 140 na odontologia e 106 na fonoaudiologia. Um deles foi o da trabalhadora rural Maria de Fátima Lacerda: ela recebeu dois aparelhos auditivos.
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A adaptação e a doação desses aparelhos são um dos diferenciais em relação aos trabalhos que o projeto realiza nos meses de janeiro e julho em Monte Negro, cidade a 250 quilômetros ao sul da capital. Em Calama, a protética Patrícia Fiorini, do Laboratório de Molde Auricular da Divisão de Saúde Auditiva (DSA) do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP, em Bauru, acompanha a equipe. Ela realiza a confecção do molde, o que permite aos pacientes receberem os aparelhos no mesmo dia ou no dia seguinte. Já em Monte Negro, os pacientes esperam seis meses: após a pré-moldagem, o material é enviado a Bauru, onde o molde será confeccionado, mas a adaptação e a entrega ocorrem somente na viagem seguinte. Os aparelhos auditivos são doados por uma empresa.
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A protética Patrícia Fiorini acompanha a equipe
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As triagens da fono e odonto são realizadas por ordem de chegada. A primeira ocorre por volta das 8 horas e a segunda, após o almoço. Os moradores chegam cedo para conseguir vaga. No feriado de 7 de setembro, Dia da Independência, pouco antes das 8 horas, cerca de 60 pessoas esperavam na frente do posto de saúde a chegada das equipes.
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![Posto de Saúde de Calama: a população madruga na fila - Foto: Denise Guimarães/USP Imagens](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/20161004_01_calama_posto.jpg)
Odontologia
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Um dia antes, 6 de setembro, a dona de casa Laurimar Lopes Mendonça, de 35 anos, foi a primeira a ser atendida. Mas para isso teve de madrugar: chegou às 3h56 da manhã. “O projeto é muito importante porque traz saúde bucal para as pessoas de Calama. E aqui não tem dentista”, diz Laurimar, que fez restauração em um dos dentes.
A dona de casa Elisângela Alves, de 29 anos, também passou por uma restauração dentária. Para ela, o trabalho das equipes da USP é muito bom. “É muito difícil para a gente ir até Porto Velho. Então foi muito importante eles [a equipe da USP] terem vindo para cá. Espero que voltem no próximo ano”, sugere.
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O mestrando em odontologia da FOB, Jefferson Moura Vieira, explica que a extração dentária é realizada quando o dente não pode ser salvo. Caso contrário, fazem a remoção da cárie e a restauração do dente. Outros procedimentos são a profilaxia (limpeza) e a aplicação de flúor.
A alta porcentagem de extrações (61%) realizadas nesta última expedição revela os problemas bucais da comunidade. Muitos moradores não têm condições de arcar com os custos de escovas de dentes, pasta e fio dental. E a saúde bucal das crianças também é preocupante.
“Eu nunca vou esquecer a cena”, conta Moura Vieira. “A mãe trouxe a filha de uns quatro ou cinco anos e quando o aluno mostrou a boca da criança, não havia um dente que não estivesse escurecido com cárie. Não havia um dente que se salvasse”, lamenta o pós-graduando. Após as consultas, as crianças ganharam kits contendo escova de dentes, pasta fluoretada e sabonete.
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“A mãe trouxe a filha de uns quatro ou cinco anos e quando o aluno mostrou a boca da criança, não havia um dente que não estivesse escurecido com cárie. Não havia um dente que se salvasse”
Fonoaudiologia
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Certa vez, uma criança moradora de Calama, com cerca de 3 anos, passou por uma consulta com a equipe da fonoaudiologia. Os profissionais constataram que o garoto Kadu Barreto Sales apresentava perda auditiva profunda, o que o tornava candidato a uma cirurgia de implante coclear. O garoto foi encaminhado ao Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Centrinho/HRAC) da USP, em Bauru, referência mundial nesse tipo de atendimento.
![Profa. Dra. Magali Caldana e Kadu Barreto Sales - Foto: Denise Guimarães/USP Imagens](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/20161004_01_calama_kadu_magali.jpg)
O implante coclear é uma prótese computadorizada formada por componentes internos e externos que substituem o órgão de Corti (órgão sensorial da audição). Mas é essencial que, após a cirurgia, o paciente receba acompanhamento multiprofissional (fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas, assistentes sociais, psicólogos) para aprender o significado dos sons. Sem isso, o procedimento é inviabilizado.
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A cirurgia [de implante coclear] não pode ser realizada pois seria necessário que o garoto viajasse duas vezes por semana até Porto Velho, para fazer o acompanhamento, mas a família não tem condições de bancar os gastos.
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O garoto e a mãe foram para Bauru e ele passou por todos os testes e exames. No entanto, a cirurgia não pode ser realizada pois seria necessário que ele viajasse duas vezes por semana até Porto Velho, para fazer o acompanhamento, mas a família não tem condições de bancar os gastos.
Atualmente, Kadu está com um aparelho auditivo convencional, mas não é suficiente para lhe proporcionar uma boa audição. “A fase em que detectamos essa perda auditiva era a ideal para fazer a cirurgia do implante coclear. Infelizmente algumas coisas estão além do nosso alcance e isso nos entristece, mexe muito com a gente”, relata a doutoranda em fonoaudiologia Cristina do Espírito Santo, presidente da comissão organizadora do Projeto FOB USP em Rondônia.
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“Infelizmente algumas coisas estão além do nosso alcance e isso nos entristece”
Atividades na escola
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Os grupos de fono e odonto também realizaram atividades na Escola de Ensino Fundamental Drª Ana Adelaide Grangeiro. A mestranda em fonoaudiologia Laura Katerine Felix de Andrade e algumas graduandas estiveram na escola e aplicaram testes de leitura e escrita para identificar dificuldades de aprendizagem. “Por meio desses testes é possível identificar quais caminhos a criança utiliza para aprender”, conta Laura. “Percebemos que muitas delas apresentam dificuldades de aprendizagem, mas não são todas e não podemos generalizar”, ressalta. Nesta última expedição, foram avaliadas 60 crianças e a ideia era produzir um relatório e enviar para os professores os resultados dessas avaliações, a fim de orientá-los sobre essas dificuldades.
![A fonoaudióloga Laura na E.M.E.I.E.F Dra. Ana Adelaide Grangeiro - Foto: Denise Guimarães/USP Imagens](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/20161004_01_calama_Laura.jpg)
Na área de odontologia, o professor Roosevelt da Silva Bastos, do Departamento de Odontologia da FOB, explicou aos alunos como prevenir a cárie. De maneira bastante lúdica, ele utilizou uma bolinha de isopor e um esmalte de unhas na cor preta para simular, na frente dos alunos, os estragos que a cárie provoca no dente.
O professor instigou os alunos com questões como: o que eu posso fazer para controlar a cárie?, pois isso estimula a independência deles. “Tudo o que a gente quer é ver essas crianças com autonomia e empoderamento. E informação é poder. Essa criança vai lembrar, em algum momento, que precisa escovar os dentes. Isso traz independência”, destaca.
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![Ação de saúde coletiva na E.M.E.I.E.F Dra. Ana Adelaide Grangeiro - Foto: Denise Guimarães/USP Imagens](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/20161004_01_calama_esmalte.jpg)
Escovódromo
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Silva Bastos conta que, em anos anteriores, quis analisar a prática de escovação dentária dos alunos. “Fizemos uma escovação supervisionada com todos eles. Mas não havia um ambiente adequado. Então conversamos com a direção da escola e também com a direção do projeto. No ano seguinte, quando retornamos a Calama, a escola havia construído um ‘escovódromo’, um ambiente favorável, tanto para as crianças escovarem os dentes após as refeições, como para higienizar as mãos”, relata.
No final, os professores da FOB entregam para os alunos kits de higiene bucal contendo pasta fluoretada, escova de dentes e sabonete.
![Escovodromo - Foto: Denise Guimarães/USP Imagens](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/20161004_01_calama_escovodromo.jpg)
Leia mais sobre o Projeto FOB USP em Rondônia na reportagem especial do Jornal da USP
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