Os cientistas precisam sair de seus laboratórios e interagir de forma muito mais intensa com a sociedade se quiserem sobreviver ao “apagão” de recursos para ciência e tecnologia no Brasil, que tende a se agravar nos próximos anos, em função da pandemia, segundo o professor Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), da Universidade de São Paulo. “Vamos ter que agir com muita resistência”, alertou ele, em sua participação no USP Talks desta terça-feira, 1º de setembro, sobre O Futuro da Ciência no Brasil.
“O novo normal do cientista do século 21, depois da pandemia, não pode mais ser dentro do seu laboratório”, disse. “Temos que mudar de atitude e nos aproximarmos da sociedade. Ou a gente conversa com as pessoas, ou não vamos vencer essa guerra.”
Ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Oliva apresentou números da proposta orçamentária do governo federal para 2021, recentemente enviada ao Congresso, que inclui um novo corte de recursos para o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), além de um contingenciamento quase total dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
No Estado de São Paulo, a preocupação maior é com o projeto de lei (PL 529/2020) que propõe confiscar as reservas financeiras das universidades públicas e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O ex-presidente e diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, comparou os efeitos do projeto — caso seja aprovado da forma que está — aos de uma “bomba atômica” para a ciência do Estado.
“É inexplicável que no Estado de São Paulo (que tem uma tradição mais Iluminista com relação a ciência e tecnologia) tenha se criado essa iniciativa”, destacou Brito Cruz, que é professor e ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Isso indica, mais ou menos, que o Iluminismo acabou. Apagaram a luz.”
O USP Talks é uma iniciativa de comunicação social da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo. Os eventos ocorrem mensalmente, sempre na primeira terça-feira do mês, e os vídeos ficam disponíveis no Canal USP e no canal USP Talks do YouTube.
Assista à íntegra do evento abaixo.