Os ministros responsáveis pela energia nos países do G20 se reuniram em Foz do Iguaçu e firmaram um documento curto de três páginas. E é desse documento que trata a coluna desta semana do professor José Eli da Veiga, que entende ser necessário uma análise mais detalhada das “filigranas que aparecem nos parágrafos, porque nem sempre a gente, numa primeira leitura, percebe as implicações, sobretudo dos conflitos diplomáticos que podem estar por trás do uso de um ou outro termo. Nessa apresentação primeira, eu gostaria de destacar uma questão que nem sempre é levada em conta, ou enfim, que normalmente a gente não presta atenção, que é no próprio uso da expressão transição energética. Ou seja, a transição energética, quando se começou a falar nisso lá atrás, há 30 anos, obviamente não era preciso explicar, se tratava da descarbonização, isto é, da transição energética que iria sair de uma matriz dominada por energias fósseis que chegassem a uma matriz dominada por energias, como ficaram sendo chamadas, principalmente renováveis, ou, se não fossem renováveis, pelo menos que não emitissem carbono”.
Mas, afinal, será que muda muito falar em transição energética, no sentido explicado, e usar o termo geral transições energéticas? Segundo Eli da Veiga, já faz algum tempo, pelo menos desde 2010, que se vem dando preferência a usar o termo no plural. “Quando eu falo de transições energéticas, eu estou podendo me referir a muitas, diversas, que ocorrem ao mesmo tempo etc. Não estou necessariamente enfatizando a central, que eu acabei de definir, isso é uma primeira questão. A segunda questão é que, de fato, quando se fala em transição energética no singular, muitas vezes, as pessoas implicam a ideia de que seria o fim do petróleo, por exemplo, ou o fim do petróleo e do gás”, explica ele. “E, historicamente, as transições energéticas não foram desse tipo, não foi uma energia que veio simplesmente substituir completamente uma outra. Na verdade, existe muito mais simbiose entre as energias do que se pensa. Inclusive é sempre importante lembrar que as atuais renováveis, que estão fazendo muito sucesso, principalmente em termos de custos e de preços para o consumidor, que são a solar e a eólica, e a fabricação dos materiais necessários para que se montem os equipamentos para fornecer essas duas energias, são consumidoras de energias fósseis ainda e serão durante muito tempo.”
Sustentáculos
A coluna Sustentáculos, com o professor José Eli da Veiga, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção na Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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