No final do mês de abril de 2024 teve início uma das maiores tragédias climáticas da história do Brasil. As chuvas no Rio Grande do Sul levaram a enchentes e alagamentos que acarretaram a morte de mais de 160 pessoas, segundo a Defesa Civil do Estado. Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP, e Ana Carla Bliacheriene, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, contam o que pode ser feito, em termos de políticas públicas, para prevenir essas enchentes e outras catástrofes ambientais e quais são os desafios econômicos e políticos para se adotar uma postura de prevenção.
Verba para prevenção
O professor Buckeridge expõe que, mais importante que fazer um plano, por mais elaborado e bem pensado que ele seja, é ter de executar as medidas emergenciais. Isso passa também pelo remanejamento de verba pública, o que pode ser um desafio para os governos. “O plano é a parte fácil, é a primeira coisa que surge. Depois, em todo o processo de adaptação, de implantação, o valor que se gasta para se aplicar a política pública aumenta exponencialmente com a implantação. Para isso, a coordenação entre os entes federativos é muito importante.”
Ana Carla explica melhor essa dificuldade de remanejar recursos: “Existe uma grande dificuldade do gestor local de saber, por mais boa vontade que ele tenha, de onde pegar o dinheiro para fazer a política pública, qual seria o melhor local para ele realocar esse dinheiro, dentro das políticas públicas possíveis. Além disso, é preciso monitorar as políticas tomadas e, por fim, testar a eficácia da política que ele elegeu como adequada.”
Lei e controle
Para a professora Ana Carla, pensar em prevenção de catástrofes e alocamento de recursos coloca gestores em uma condição que nem sempre é agradável politicamente. “Quem disser que não pôde atuar porque a lei não permitiu, desconhece a lei. Por outro lado, aquele que tem a coragem de atuar certamente será o primeiro a estar diante dos órgãos de controle, e o que acontece no Rio Grande do Sul é um exemplo disso: o Ministério Público do RS acaba de abrir uma investigação em municípios cujo prefeito decretou o estado de calamidade, mas que não estaria na área direta de influência dos alagamentos. O que os prefeitos estão dizendo? Numa cidade muito pequena, eu recebi mais de cinco mil pessoas dentro do meu território e eu preciso apoiar essas pessoas.”
A importância da ciência
Buckeridge explica que, para o avanço no combate às catástrofes climáticas, é essencial que haja pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, e para isso é preciso que haja também financiamento à ciência no Brasil. “Tecnologias surgem mais ou menos uma década depois que uma descoberta científica é feita. Portanto, manter o financiamento à ciência continuamente, em todos os Estados, é de fundamental importância”, conta o professor.
“Por exemplo, no caso do Rio Grande do Sul, professores de lá, que conhecem profundamente o local, já tinham avisado há anos que a catástrofe poderia acontecer e que era preciso ter uma melhor preparação para esse evento estranho. Neste momento, aqui em São Paulo, o governo ameaça retirar dinheiro da Fundação de Amparo à Pesquisa. Essa ameaça é algo que se assemelha aos efeitos do negacionismo ideológico,” completa Marcos Buckeridge.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
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