Taxa de crescimento da população de São Paulo diminui, mas cidade ainda é a mais populosa do País

Especialistas explicam que interiorização da indústria e migrações pelo Estado estão por trás dessa diminuição

 Publicado: 13/06/2024
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A tendência é que o aumento populacional desacelere cada vez mais na capital Fotomontagem Jornal da USP feita com imagens de Prefeitura de SP e Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0)
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Segundo dados oficiais do Sistema Estadual de Análise de Dados, o Seade, a população da cidade de São Paulo está crescendo cada vez menos. Enquanto nos anos 1950 a taxa de crescimento era de cerca de 5,5%, a taxa observada na década de 1980 foi de apenas 1,15%. O crescimento foi ainda mais sutil entre 2010 – 2022, com discretos 0,15%. Apesar da diminuição da taxa de crescimento, São Paulo continua sendo uma cidade populosa e popularmente densa: 11,45 milhões de habitantes em 2022, ou uma média de 7,528 habitantes por quilômetro quadrado.

O professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, conta que a diminuição na taxa de crescimento populacional está conectada com a queda na taxa de fertilidade, que é comum entre os países mais desenvolvidos do planeta. “A variação tem um pouco a ver com a taxa de fertilidade caindo, e isso acontece nos países desenvolvidos. A Europa, por exemplo, tem hoje uma taxa de fertilidade que é abaixo da taxa de reposição da população.”

Luciano Nakabashi – Foto: Currículo Lattes

Contudo, apenas a taxa de fertilidade não é o suficiente para explicar a variação da taxa de crescimento da população da capital. Há também os fluxos migratórios. “A região Sudeste atrai muito menos trabalhadores de outras regiões do Brasil. São Paulo atraiu muita gente, assim como o Sudeste de uma forma geral, mas hoje São Paulo já não tem aquele poder de atratividade que tinha no século 20”, explica o professor.

Fluxo das indústrias

Enquanto a capital paulista perde o poder de atratividade que tinha, com promessa de empregos, crescente industrialização e aumento de qualidade de vida, o interior “puxa” essa massa trabalhadora, com maiores crescimentos populacionais sendo observados em municípios ao entorno da capital. “São José dos Campos, Campinas, Sorocaba e a Baixada Santista são regiões que ainda apresentam dinamismo econômico e, consequentemente, acabam atraindo população”, diz Luciano Nakabashi.

Conforme explica César Simoni Santos, professor do Departamento de Geografia da USP, esse fenômeno populacional tem relação íntima com o fluxo de capitais e a evolução e reprodução do espaço urbano. “Um caso clássico na geografia urbana brasileira, desde os anos 90, são as reformas urbanas. Elas têm sido bons exemplos de processos de reprodução do espaço urbano”, conta Simoni Santos.

César Simoni Santos – Foto: Site IEA/USP

Essas reformas e mudanças na cidade de São Paulo tiveram como resultado a expulsão da indústria e a predominância do capital financeiro. O professor explica melhor: “A gente tem uma mudança do padrão do perfil econômico da cidade de São Paulo. A grande indústria, que caracterizou o boom de crescimento da cidade até se tornar a metrópole que ela se tornou nos anos 70, não tem mais esse peso na ordenação do espaço com o potencial de atração da massa demográfica que ela teve até os anos 80”.

Conforme a indústria se expande para o interior do Estado, a tendência é de que a massa populacional desses locais aumente. César Simoni exemplifica alguns motivos para a interiorização da indústria: “O custo do trabalhador aumentou. A própria possibilidade de expansão das plantas industriais em ambientes urbanos intensificados, com alta procura no mercado imobiliário, faz com que essas grandes plantas industriais acabem procurando por áreas as quais o preço da terra é mais baixo e que sejam igualmente providas de infraestrutura para facilitar o acesso a insumos e o deslocamento do bem produzido”, finaliza. 

Imagem: Reprodução de gráfico do Site informaseade.gov

Consequências

A tendência é que o aumento populacional desacelere cada vez mais na capital, até chegar no ponto de crescimento vegetativo negativo, como acontece em países como a Grécia, e a população deve envelhecer (menos crianças nascendo e idosos vivendo cada vez mais). O professor Luciano Nakabashi explica melhor as consequências: “A questão do envelhecimento da população traz alguns problemas, o mais evidente deles é a questão previdenciária. Há cada vez mais pessoas idosas que dependem da aposentadoria e menos pessoas em idade de trabalhar, e isso sobrecarrega a Previdência Social”. 

Segundo o professor, há também uma preocupação com o crescimento e dinamismo da economia: “Não que isso vá causar uma recessão, mas certamente vai gerar um crescimento econômico menor. A gente não espera uma queda do PIB, mas espera um menor crescimento do PIB e menor dinamismo econômico decorrente dessa dinâmica populacional,” conclui o professor da FEA-RP, Luciano Nakabashi.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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