Recife Amazônico precisa de mais estudos, mas tem conexões com ecossistemas regionais

Interdependência e grande biodiversidade caracterizam o local na foz do rio Amazonas, diz o professor Ronaldo Francini Filho

 30/06/2023 - Publicado há 1 ano
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O Recife Amazônico está localizado na foz do rio Amazonas, no Oceano Atlântico, e é classificado como mesofótico – Foto: Ronaldo F.F./Greenpeace
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A Grande Barreira de Corais, na Austrália, é o recife mais conhecido do mundo, porém, existem muitos outros que, inclusive, não são compostos majoritariamente de corais. Esse é o caso do Recife Amazônico. “Existem duas definições: uma que é mais abrangente e outra que é mais restrita. A mais abrangente seria qualquer coisa estruturada num substrato duro, consolidado, que fica abaixo do nível do mar: uma rocha poderia ser um recife, existem inclusive os artificiais como naufrágios de navios e outras estruturas”, explica o professor Ronaldo Francini Filho do Centro de Biologia Marinha da USP. O caso mais restrito considera recifes estruturas consolidadas, rígidas, mas construídas a partir de organismos vivos, ou seja, eles seriam de origem biogênica.

Características

O Recife Amazônico está localizado na foz do rio Amazonas, no Oceano Atlântico. Ele é classificado como mesofótico: “meso” significa meio e “fótico”, luz. Isso quer dizer que os organismos presentes não são muito dependentes da luminosidade, até por estarem entre 30 e 150 metros de profundidade.

“A gente tem, nos recifes mesofóticos, uma participação maior de outros organismos como as algas calcárias, corais negros, octocorais ou gorgônias”, exemplifica o professor. Ele ainda acrescenta que o visto no Amazonas é semelhante aos vizinhos na margem equatorial brasileira, em Abrolhos e no Caribe.

Ronaldo Francini Filho – Foto: Reprodução/Fapesp

Integração

A proximidade com o Caribe não é apenas física: a fauna e a flora dos recifes também são relacionadas. “A gente tem espécies que a gente só encontra na porção norte do rio Amazonas e outras que a gente só encontra na porção sul. Isso ocorre principalmente por conta da barreira do rio Amazonas”, explica Francini. A denominação é barreira biogeográfica, mas o professor coloca que o melhor é chamá-la de filtro porque é uma barreira intermitente, dependendo do nível do mar. “Quando o nível do mar está bem alto, a gente tem uma lâmina de água salgada que corre por baixo da pluma de água doce, o que permite a sobrevivência desses organismos que formam os recifes e esse corredor de conexão entre o Brasil e o Caribe”, completa. Uma pluma, na hidrodinâmica, é uma coluna de fluido, nesse caso de água, que se move dentro ou ao redor de outro.

Mas o Recife Amazônico também está integrado aos ecossistemas regionais brasileiros: “Temos evidências de que os nutrientes dos rios estão sendo incorporados ao longo da cadeia trófica em um peixe que está no recife. Temos uma interconexão, uma interdependência entre esses biomas. Existem evidências dos nutrientes que saem da floresta que estão abastecendo as esponjas marinhas. A gente tem essas migrações biológicas ao longo do desenvolvimento dos organismos, também tem essa questão da conectividade de nutrientes via o fluxo do rio. É uma clara interdependência entre esses ambientes e uma necessidade de manejo e de desenvolvimento de estratégia de conservação de forma integrada“, completa.

Pesquisa

Atualmente, apenas cerca de 5% do recife é conhecido, para o professor, esse número pode ser ainda menor. Porém, isso não desestimula as pesquisas e estudos que estão sendo feitos.

“A gente precisa de muito mais ainda para conseguir ter o mínimo de noção sobre a diversidade, sobre o funcionamento do Recife Amazônico. Então, isso que, por um lado é ruim, porque a gente precisa da informação para conseguir avaliar potenciais impactos e planejar a criação de áreas protegidas, ao mesmo tempo é, para um pesquisador, para um cientista, estimulante, porque a gente tem a perspectiva de grandes descobertas“, explica o professor.


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