Este ano, o Pantanal tem registrado alertas de queimadas mais frequentemente. Antes do começo do inverno, já se registraram 70% das queimadas ocorridas em 2020. O aumento das queimadas está sendo atribuído ao período de transição entre o El Niño e o La Niña. O professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, explica os impactos desse período de transição no Pantanal. É possível que este ano seja um ano de recordes em queimadas no Pantanal. “A progressão dos alertas de queimada tem sido cada vez mais intensa, contínua e bem acelerada. É importante lembrar que nós não entramos ainda no período tecnicamente mais seco, que é o inverno. Ainda estamos no outono, embora com esse clima de verão. Os prognósticos climáticos já indicavam que nós teríamos uma tendência de concentração de calor muito forte no Centro-Oeste, especialmente na região do Pantanal”, elucida.
Segundo o docente, a situação se torna ainda mais preocupante quando olhamos o histórico recente da região. “Infelizmente, esse tempo extremamente seco facilita a propagação dos focos de incêndio e nós temos aí uma questão: o fogo faz parte da renovação do bioma pantaneiro, do bioma do Cerrado. O problema é a intensidade, o fogo é natural, mas os impactos são muito severos. Em 2020 nós tivemos um número recorde de focos de incêndio, a área foi atingida de forma muito intensa e isso compromete muito a recuperação do bioma. Quatro anos depois, nós vamos ter uma repetição disso, talvez até com uma maior intensidade. Também há que se considerar fortemente aquelas questões de manejo de pastagem, que não podem sair do controle. Então, é fundamental a presença de fiscalização de brigadas de combate a incêndio”, afirma.
Crises hídricas
Com o tempo seco e os recordes das queimadas, surge o alerta para as crises hídricas, como a ocorrida em 2014. “Em 2014, durante a crise hídrica em São Paulo, nós tivemos uma movimentação de fluxos de vento no oceano Atlântico. Uma parte disso se voltava para a parte inferior do Brasil e do trecho entre Paraguai e Uruguai. Esse fluxo impedia a entrada de frentes frias, então ele funcionava como uma barreira, um fluxo de ventos marítimos que bloqueavam a progressão das frentes frias. Isso gerou em 2014 a crise hídrica em São Paulo. Em 2020, tivemos eventos com características muito semelhantes aos de 2014, e agora, novamente, vemos essa repetição”, explica.
Côrtez afirma que, apesar das semelhanças, no caso atual, tendo em mãos as previsões climáticas, as autoridades podem se precaver e evitar danos maiores. “Essas informações não implicam que a crise vai necessariamente ser manifestada da mesma forma que nos outros anos. Temos alertas climáticos em mãos e previsões bastante assertivas, é importante que os gestores públicos utilizem as informações. Diante disso, o que poderia ser feito em relação ao abastecimento? Me parece que o operador nacional do sistema, ONS, caminha nesse sentido: procurar manter algumas grandes usinas hidrelétricas com atividade reduzida, privilegiando o recarregamento dos reservatórios. Muitos deles estão em alta, estão com 70% ou mais. É preciso manter esse nível, exatamente para que, quando a situação de seca extrema na região central chegar, nós tenhamos água para geração de energia elétrica, para abastecimento das cidades e também para irrigação de plantios”, finaliza.
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