Pandemia foi um marco no contexto da alfabetização de crianças no Brasil

Émerson de Pietri explica as consequências e qual foi o impacto para as escolas, professores e alunos

 15/04/2024 - Publicado há 7 meses
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Apenas quatro em cada dez crianças do 2º ano do Ensino Fundamental estavam alfabetizadas em 2021 – Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

 

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Quando se pensa em educação, ainda mais nos primeiros anos de vida, a alfabetização é um dos primeiros pontos que vêm à mente. Porém, nem todas as crianças conseguem ser alfabetizadas a tempo ou do mesmo jeito, o que gera uma grande preocupação para os pais, professores e escolas. “Não há uma idade que possa ser considerada adequada de modo padrão, porque é sempre preciso considerar o contexto em que a criança vive, o lugar que a escrita ocupa nas atividades desenvolvidas pela sua família, as posições que a escrita possui na cultura de um determinado grupo”, explica o professor Émerson de Pietri da Faculdade de Educação da USP.

Ele ainda acrescenta: “É preciso observar também que a infância é o tempo do brincar e que os processos mais escolarizados de alfabetização não podem retirar esse direito da criança. Mesmo que não seja interessante desenvolver isso nesse momento [Educação Infantil], é importante realizar brincadeiras com letras ou aprender a escrita do próprio nome, por exemplo. São atividades que auxiliam no processo de aquisição da escrita, que vai se realizar de maneira mais consistente no Ensino Fundamental I”.

Pandemia

De acordo com a pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada pelo Ministério da Educação, apenas quatro em cada dez crianças do 2º ano do Ensino Fundamental estavam alfabetizadas em 2021. Esse dado é ainda mais preocupante quando comparado ao de 2019, no qual seis em cada dez eram alfabetizadas. Um fator importante entre os dois dados foi a pandemia de covid-19. “Esses dados preocupantes mostram o papel fundamental da escola pública no processo de ensino e aprendizagem da escrita”, diz de Pietri.

Émerson de Pietri – Foto: Arquivo Pessoal

O professor pontua que, para as crianças pertencentes a grupos sociais que no dia a dia dispunham de materiais diversos de leitura como livros, revistas, quadrinhos, acesso à internet, a pandemia trouxe desafios, mas muito menores do que para aquelas que não tinham esses recursos em casa.

Esses problemas apontam para a escola como lugar em que é possível ter acesso às práticas de leitura e escrita de modo mais consistente. “As crianças que, durante a pandemia, tiveram em casa o apoio de familiares, de adultos, enfim, de quem podia ajudar nesse processo, enfrentaram menos desafios que as crianças que não puderam ter esse apoio por vários motivos”, acrescenta.

Consequências

“As crianças que não conseguiram se alfabetizar no período da pandemia se encontram hoje, na escola, numa situação muito difícil, porque elas não têm as bases necessárias em leitura e escrita para prosseguir, de modo satisfatório, no seu percurso de escolarização”, alerta de Pietri. Para ele, o maior desafio, hoje em dia, é “como garantir que essas crianças se alfabetizem num momento posterior àquele que, na escola, se volta mais para esse processo”. De fato, as salas de aula são lugares com grande heterogeneidade, ou seja, existe diferença entre o grau de aprendizagem dos alunos de uma mesma sala. Porém, pós-pandemia, isso se tornou ainda mais aparente.

“Isso torna ainda mais difícil o trabalho dos professores, porque um trabalho individual com os alunos se faz necessário. Se essas crianças não podem ter, em casa, o apoio que necessitam, a situação se torna extremamente desafiadora”, diz o professor. Ele completa ressaltando a necessidade das redes de ensino garantirem condições satisfatórias de trabalho para esses profissionais, dada a importância do ambiente escolar para várias crianças.

*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo


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