A expectativa da produção de milho no Brasil para 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), é de 131,7 milhões de toneladas. A partir desse volume, devem ser gerados mais de 300 de resíduos, que seriam descartados, já que, de acordo com Koopmans e Koppejan (1997) apud Preto e Mortoza (2010), a produção de resíduos de milho para cada tonelada colhida é de 2,3 toneladas.
Mesmo que nem todos esses milhões de quilogramas possam ser “reciclados”, você já pensou que é possível aproveitar parte disso, que do contrário seria descartado como lixo?
Biorreator
A palavra “biorreator” pode parecer bem importante, mas a verdade é que ela é somente a ponta da patente Biorreator de Palha de Milho. O verdadeiro destaque é o processo de obtenção de um coquetel de enzimas responsável por, após toda uma cadeia de reações químicas envolvendo também o bagaço da cana-de-açúcar, resultar no etanol.
“Ele utiliza como estratégia um sistema de cultivo que combina o crescimento de um fungo isolado aqui no nosso laboratório da USP de Ribeirão Preto, em conjunto com um fungo chamado Mycothermus thermophilus“, explica a professora Maria Polizeli da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) de Ribeirão Preto da USP.
Ambos os fungos possuem um intervalo de temperatura semelhante que permite o crescimento deles juntos no mesmo meio de cultura — que, no caso, também contém a palha de milho. “Esses resíduos foram usados como fonte indutora da produção de muitas enzimas que degradam celulose e hemicelulose. A decomposição completa delas vai formar a glicose, que, numa etapa posterior, vai ser fermentada por leveduras e formar o etanol”, completa a professora.
Aplicação
Polizeli conta que a ideia da patente surgiu devido ao sucesso do coquetel enzimático. “Ele contém as enzimas essenciais para hidrólise de açúcar, da parede celular e de resíduos vegetais. Sua aplicabilidade também pode ser expandida para diversos outros tipos de biomassa, que têm uma composição parecida com a do bagaço de cana”, completa. Com isso, é possível enquadrar o coquetel na produção de vários produtos de grande interesse industrial: tanto o etanol, o ácido lático, como os bioplásticos, entre outros.
“Estamos propondo a geração de um produto que é ecologicamente correto, que beneficia a sociedade e o meio ambiente, além de vir com o objetivo de emplacar um coquetel enzimático que é 100% nacional, produzido a partir de resíduos industriais — que antes eram descartados no meio ambiente. Consideramos que esse processo traz um conceito ecologicamente correto desde o começo até o produto final”, ressalta a professora.
Situação da patente
A patente já foi registrada no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o que, embora seja de grande relevância, não a coloca no mercado automaticamente.
“Ainda é necessário um escalonamento maior da produção do coquetel para que seja possível atingir níveis industriais. Nós precisaríamos fazer essa produção em fermentadores maiores e, para isso, precisamos de um pequeno investimento inicial em equipamentos”, explica Maria Polizeli.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
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