
No Estado de São Paulo o debate sobre a reforma do Novo Ensino Médio é crescente. Especulações sobre o impacto das novas regras na educação dos jovens vêm tomando corpo e entrando cada vez mais na esfera pública. A doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo Monique Pessoa discutiu as consequências dessa reforma nas Etecs (Escolas Técnicas Estaduais).
O Centro Paula Souza, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Inovação, possui uma dinâmica diferenciada na formulação de currículos em relação aos outros colégios estaduais. Desde a implementação da Lei 2.208/97, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que separou a educação profissional do Ensino Médio, as Etecs têm se adaptado rapidamente às mudanças educacionais, como afirma a especialista Monique Pessoa. “Nossas escolas possuem, dentro da sua estrutura, o que nós chamamos de Grupo de Formulações e Análises Curriculares, que se chama GFAC. Esse denominado GFAC permitia que o Centro Paula Souza tivesse uma dinâmica interna de formulação e reformulação dos seus próprios currículos. Isso se deu muito por conta de uma mudança curricular que aconteceu na era Fernando Henrique Cardoso, que é a Lei 2.208, e permitiu uma separação entre educação profissional e Ensino Médio.”
Em 2018, por exemplo, cerca de 30 escolas já ofereciam Ensino Médio com qualificação profissional, integrando o que se chama de M-TEC ou M-QTEC, em resposta à nova configuração do Ensino Médio trazida pela Lei 13.415. As Etecs têm sido pioneiras nas reformulações curriculares, alinhando-se às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Parcerias
O novo Ensino Médio trouxe a possibilidade de ensinar em ambientes de trabalho e estabelecer parcerias com empresas, como a Volkswagen. Essas colaborações visam a ampliar a capacitação profissional dos alunos, e as Etecs têm se destacado nessa abordagem. No entanto, a crescente ênfase no ensino profissionalizante tem resultado em uma diminuição nas horas dedicadas às matérias básicas do currículo do Ensino Médio.

“M-TEC P.I. combina Ensino Médio e habilitação profissional com uma carga horária total de 3.000 horas, que inclui o componente da BNCC e a parte profissional. Entretanto, nós temos mais algumas horas a depender do curso da chamada parte diversificada, que corresponde, basicamente, àquilo que se chama de itinerários formativos. Então, por exemplo, em sociologia, que é o meu caso, no primeiro ano, o aluno não tem sociologia no primeiro ano, no segundo, só tem no terceiro, uma aula por semana. Ou geografia, tem duas aulas no primeiro, duas no segundo, no terceiro ele não tem mais. Ele não tem aula todos os anos da base nacional comum”, afirma a docente.
A implementação de itinerários formativos nas Etecs representa uma tentativa de personalizar o aprendizado e desenvolver competências socioemocionais nos estudantes. Entretanto, essa abordagem exige um alto grau de maturidade emocional por parte dos alunos, algo que nem sempre é alcançado. “Essa parte diversificada trabalha por eixos temáticos que correspondem a comportamentos e atitudes que os alunos devem desenvolver, como proatividade e resiliência”, explica Monique. No entanto, a prática pode ser esvaziada, dada a variedade de temas abrangentes abordados.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
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