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Recentemente, a internet foi tomada por supostas fotos da prisão de Donald Trump. Produzidas no Midjourney, uma plataforma de inteligência artificial, circularam intensamente pelas redes, razão pela qual fica a pergunta: as imagens são o novo lugar das fake news? A professora Giselle Beiguelman responde: “Essas fotos da prisão do Donald Trump eram tão convincentes quanto falsas e dispararam reação imediata da Associated Press, que as contestou publicamente, seguidas de bloqueio automático desse conteúdo no Twitter, Instagram e Facebook e, finalmente, culminaram na expulsão de seu criador, Eliot Higgins, da plataforma Midjourney”.

“Quando tudo parecia mais ou menos estabilizado, um novo tsunami aconteceu e tendo como protagonista o papa Francisco, trajando um casaco branco super fashion e ostentando um crucifixo brilhante, digno de um videoclipe da Madonna. A foto tornou-se notícia em segundos e, rapidamente, se converteu em meme”.

Na opinião da colunista, o uso da inteligência artificial vem borrando as fronteiras entre a realidade e a ficção, tornando cada vez mais difícil verificar a legitimidade de fotos e vídeos. Enquanto ainda se debate a ética da manipulação digital, programas inventam imagens verossímeis, com consequências políticas e sociais imprevisíveis. Essas imagens, diz ela, vieram para ficar e não são uma mera atualização do que o stalinismo fez com Trotsky, apagando-o das fotos em que aparecia com Lenin, algo que o nazismo fez em incontáveis outras fotos e imagens.

“Estamos além da era do “homem sem a câmera” e do mundo pós-photoshop. O nosso agora é o da imagem sem o humano. A virada não é apenas técnica. Essas imagens mais reais que o real, produzidas com recursos acessíveis de inteligência artificial, como os oferecidos pelo Midjourney e pelo DALL-E, colocam em jogo uma outra história do olhar produzida por algoritmos opacos. A pergunta não é se saberemos indicar quais fotos e vídeos são verdadeiros e quais não são. A pergunta é se os sistemas de visão computacional se tornarão a tal ponto dominantes, que enxergaremos o mundo pelo ponto de vista das inteligências artificiais e converteremos os fakes  em verdades”, conclui.

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