É fato que ninguém é igual a ninguém. Por esse motivo, o modo como cada um retém informações, as absorve e aprende, também é diferente. Vários modelos teóricos, como os de Kolb, Vark e Dunn e Dunn, buscaram explicar os diferentes tipos de aprendizado, para que novas estratégias pedagógicas fossem criadas e, assim, ajudar os alunos a aprenderem mais e melhor.
O aprendizado é individual e revela características pessoais, de personalidade, cognição, habilidades, educação e forma com que o indivíduo compreende o mundo ao seu redor. Alguns demoram mais para aprender que outros, ou preferem fazer anotações do que simplesmente ouvir uma palestra. Existem aqueles que não conseguem aprender pela teoria, mas obtêm melhores resultados a partir da prática.
Um dos pesquisadores sobre o assunto, Neil Fleming, classificou quatro estilos de aprendizagem: visual, sinestésico, auditivo, leitura/escrita. É o chamado método Vark. Diferentes personalidades e habilidades cognitivas fazem com que cada aluno se adapte melhor a um dos quatro estilos de aprendizagem. Quem aprende melhor pelo visual tende a conseguir captar melhor um assunto se tiver gráficos, imagens, infográficos, tabelas, mapas e videoaulas durante o processo educacional.
Os que aprendem melhor auditivamente conseguem assimilar melhor por meio de podcasts, músicas, entrevistas, palestras, debates, entre outros. Desde que dê para ouvir a informação, o aluno já sai ganhando. Aqueles que aprendem pela leitura e escrita têm uma facilidade maior em colocar em palavras aquilo que estão pensando. Para estes, a leitura e a escrita são fundamentais para reter a informação. Por fim, os sinestésicos são aqueles que aprendem na prática: quando há a possibilidade de treinar aquilo que foi aprendido.
Isso é apenas uma das teorizações sobre as formas de aprendizagem, existindo várias outras. Mas por que cada indivíduo tem mais facilidade de aprender de uma maneira específica?
Fatores
Antes de tudo, existem fatores genéticos e de personalidade, mas outros fatores são importantes e fundamentais para que um indivíduo se identifique mais com certa metodologia de aprendizagem. Ana Laura Lima, professora de Psicologia do Desenvolvimento da Faculdade de Educação da USP, elenca três fatores que podem explicar essas preferências individuais: sensibilidade, interesse e contato prévio.
A sensibilidade diz respeito a uma predisposição em prestar mais atenção a estímulos sonoros – aprender melhor escutando do que lendo – ou padrões visuais, por exemplo. O interesse tem um papel muito importante, já que pode ser influenciado pela sensibilidade e está relacionado a um contato prévio com algum objeto de estudo, o que acaba facilitando o aprendizado.
“Eu tenho mais interesse por aquilo em que eu sou mais sensível. [A pessoa] tem mais interesse pelos padrões visuais porque tem uma sensibilidade maior para percebê-los. Mas também o interesse pode estar relacionado à experiência prévia. Quer dizer, eu posso ter tido o meu interesse despertado, ter tido mais possibilidades, uma experiência mais enriquecedora que despertou o meu interesse e fez com que eu prestasse mais atenção e compreendesse [o assunto] com mais facilidade”, explica Ana Laura.
“Há outras questões, como, por exemplo, aquelas relativas aos conhecimentos prévios. Eu e você podemos estar assistindo à mesma apresentação, mas nós partimos de patamares diferentes de aprendizado”, diz Ocimar Munhoz Alavarse, também professor da Faculdade de Educação da USP. Quem já teve contato com o assunto, vai ter mais facilidade em aprender sobre ele.
O processo de aprendizagem, portanto, nunca diz respeito apenas a uma facilidade inerente da pessoa. Mais que isso, pode ser condicionado por fatores externos, como experiências de vida distintas. “Então, tem um componente individual, mas é muito importante a gente considerar também o componente da experiência anterior daquilo que as crianças tiveram ou não tiveram oportunidade de treinar, de exercitar”, diz Ana Laura.
O ensino dentro das escolas
Dentro desse processo, a forma como o assunto é ensinado às crianças também tem um papel importante no aprendizado. “Muitas vezes o que acontece na escola é que aquilo que eles estão querendo que os alunos aprendam está sendo apresentado de uma maneira que não é compatível com aquilo que é o objeto de aprendizagem”, diz Alavarse.
Algumas disciplinas exigem um estudo mais específico, caso da natação, por exemplo. Uma pessoa só pode aprender a nadar se ela entrar na água e praticar. Da mesma forma, outras matérias exigem o mesmo nível de comprometimento, cada uma com sua especificidade. Nesses casos, não depende muito de como o aluno aprende, mas do que é exigido. “Então, é muito mais uma questão de adaptação do que algo que é da pessoa mesmo”, diz Ana Laura.
Outro aspecto é a disponibilidade de outros materiais que ajudem no processo, como documentos oficiais ou até mesmo um laboratório, que vão muito além de uma aula expositiva. Isso é muito importante e faz toda a diferença na hora da aprendizagem.
Um problema ressaltado por ambos os professores é a comunicação dentro da sala de aula. Quando uma disciplina exige algo a mais, como interpretação de gráficos ou dados, é normal que os alunos tenham uma dificuldade inicial. O importante é deixar claro que dificuldades existem e que não há problema em perguntar se não entendeu. “É muito visível o quanto isso acalma os alunos, poder ver que o professor está levando em consideração que isso pode produzir uma dificuldade”, diz a professora.
Como estudar melhor?
“Há muitas coisas a aprender e muitos sujeitos diferentes para aprender essas muitas coisas diferentes, que exigem procedimentos diferentes. Agora, por outro lado, a gente pode pensar em condições que ajudem a todos os estudantes”, explica Ana Laura. A procura por um “método universal”, que abranja todos os tipos de aprendizado, é interminável e vem desde muito tempo.
João Amós Comênio, no século 17, escreveu a Didática Magna, ou também Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, o qual buscava um “processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos estudos”.
Mesmo que a didática universal não tenha sido encontrada, Ana Laura dá dicas de como o estudo pode ser melhor e mais proveitoso: “É sempre interessante a gente pensar que as formas de estudo mais ativas são mais interessantes do que as passivas. Por exemplo, você pode aprender copiando um texto do jeito que ele está escrito, mas ler o texto e depois procurar escrever um texto próprio autoral sobre aquele conteúdo [é melhor], pois não é só uma reprodução”.
Outra forma ressaltada por ela é tentar ouvir uma explicação e depois tentar transmitir para outra pessoa aquilo que foi aprendido. Alguns procedimentos de estudo que ajudam, ainda, no processo são: criar uma rotina de estudos; ter um ambiente preparado sem muita distração; estar descansado; trabalhar com antecedência e fazer pausas entre disciplinas. “Os melhores estudantes são aqueles que estão ativos durante a aula, seja anotando, seja fazendo perguntas e comentários”, diz Ana Laura.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.