Nova gestão da Sabesp deve prezar pela manutenção das estratégias positivas da empresa

Para Pedro Luiz Côrtes, a inexperiência da Equatorial Energia no setor de água e esgoto pode enfrentar problemas com a distribuição para uma população tão numerosa

 Publicado: 26/07/2024
É complexa a distribuição de água em um estado com um número populacional superior ao de muitos países europeus. – Foto: Governo do Estado de São Paulo/Flickr/CC BY 2.0
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Na, última semana foi concluída a privatização da Sabesp, a maior companhia de saneamento básico da América Latina, que atende mais de 20 milhões de habitantes na região metropolitana de São Paulo. A gestão da Sabesp agora será conduzida pela Equatorial Energia, uma empresa com experiência consolidada em concessões de energia, mas com apenas três anos de atuação no setor de saneamento. O professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, analisa as mudanças e as projeções para o futuro do saneamento básico do estado.

A Equatorial Energia tem atuação consolidada em concessões de energia nos estados de Alagoas, Amapá, Goiás, Maranhão, Pará, Piauí e Rio Grande do Sul. Contudo, sua experiência no gerenciamento de grandes sistemas de saneamento é limitada, visto que ingressou há apenas três anos no setor de saneamento ao assumir a concessão dos serviços de água e esgoto do Amapá.

Segundo o especialista, agora que é controladora, a Equatorial tem o poder de modificar toda a diretoria da Sabesp e indicar membros para o conselho da empresa e para o controle operacional. Devido a isso, o especialista expressa preocupação pela inexperiência da empresa nesse setor, porque passa a ter o objetivo de gerir a distribuição de água em um estado com um número populacional superior ao de muitos países europeus.

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Pedro Luiz Côrtes – Foto: Maria Leonor de Calasans/IEA-USP

Conforme Côrtes, sob a gestão estatal, a Sabesp conseguiu implementar uma série de melhorias após a crise hídrica ocorrida de 2014 a 2016, o que resultou em um gerenciamento eficiente na adaptação a novas demandas. Ele ressalta que a empresa é bem administrada tanto do ponto de vista técnico quanto financeiro e está listada nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York, sujeita a rigorosas fiscalizações.

Por conta do sucesso na adaptação às crises e na complexidade da atual distribuição de serviços, o professor teme que possíveis alterações na diretoria e no conselho da empresa impactem sua eficiência operacional, especialmente se a nova gestão decidir implementar mudanças drásticas sem a devida experiência no setor.

“Há também um compromisso de não fazer demissões na empresa, até mesmo porque ela passou por um programa de demissão voluntária até o final do ano passado, então já passou por um processo de enxugamento de equipe e há um compromisso de manter uma série de estabilidade do quadro funcional durante um certo tempo. Entretanto, o grande temor é que ela venha a enxugar esse quadro depois desse período de carência e, a partir daí, haja uma redução na qualidade dos serviços prestados”, analisa.

Crises

De acordo com o professor, a nova gestão também enfrentará desafios relacionados às mudanças climáticas e a possíveis crises hídricas. Ele conta que a Sabesp já implementou recentemente estratégias eficazes para lidar com crises passadas, como a redução da pressão noturna para minimizar vazamentos ou práticas ilícitas como o furto de água efetuado por empresas hoteleiras e lavanderias, que chegam a modificar os hidrômetros para economizar na conta de água.

Segundo Côrtes, uma discussão detalhada sobre a gestão de futuras crises hídricas durante o processo de privatização foi um ponto crítico, já que foi muito pouco discutido. Devido a isso, ele reforça que a Equatorial precisará desenvolver um plano robusto para enfrentar eventos climáticos extremos e a criação de estratégias será crucial para a manutenção da distribuição dos serviços essenciais no estado.

“Hoje nós estamos em uma situação favorável, mas diante de uma situação desfavorável que se avizinha com a chegada do La Niña no segundo semestre, cabe a nós acompanharmos de perto como será a gestão da nova empresa e suas decisões operacionais diante do impacto dessas mudanças climáticas”, finaliza.


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