No plano global, vitória de Donald Trump traz preocupação entre aliados e rivais dos EUA

Conforme Kai Enno Lehmann, o comércio mundial também fica abalado com a vitória do republicano; já as relações com o Brasil devem sofrer um retrocesso. Por sua vez, Renato Janine Ribeiro considera que a Constituição americana perde sua principal característica

 Publicado: 07/11/2024 às 11:19
O apoio incondicional de Trump a Israel pode dificultar ainda mais as negociações de paz no Oriente Médio – Foto: Gage Skidmore – Wikip
Logo da Rádio USP

Na madrugada desta quarta-feira (6), Donald Trump foi declarado vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos, superando a candidata democrata Kamala Harris. Donald Trump, eleito o 47° presidente dos Estados Unidos da América, venceu no Colégio Eleitoral, e também no voto popular, a oponente Kamala Harris. Trump volta a assumir o cargo presidencial depois de quatro anos. O professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais da USP, comenta as eleições e os motivos que levaram Trump a vencer.

“Trump tem isso, ele tem isso há anos, é uma mensagem muito consistente e ele é um comunicador nesse nível muito, muito bom. Eu acho que, assim, a gente pode gostar ou não da mensagem ou das políticas, mas ele sabe comunicar-se com esse eleitor que não liga para a política (…) Então, nesse nível, ele é um comunicador excepcional e com uma mensagem muito clara, e eu não vejo, há anos, na verdade eu não vejo essa mensagem no lado dos democratas”, afirma o professor.

No plano global, as repercussões do retorno de Trump à presidência já provocam preocupações entre aliados e rivais dos Estados Unidos. O professor Lehmann acredita que o apoio incondicional de Trump a Israel pode dificultar ainda mais as negociações de paz no Oriente Médio, especialmente para os palestinos. Ele também aponta que Trump pode pressionar a Ucrânia a negociar com a Rússia, embora esse movimento dependa de fatores complexos, envolvendo o apoio militar e diplomático dos EUA na região.

Consequências da eleição de Trump

Kai Enno Lehmann – Foto: Reprodução/ResearchGate

O comércio mundial também fica abalado com a vitória de Trump. Lehmann alerta para o risco de turbulências comerciais, especialmente entre os EUA e países como China e membros da União Europeia. A visão nacionalista de Trump sobre a economia pode gerar conflitos comerciais em um momento delicado para o comércio internacional. Tarifas sobre produtos e disputas comerciais com grandes economias parecem iminentes, o que pode afetar a economia global e criar instabilidade no mercado financeiro.

“Por outro lado vai ter brigas comerciais com a China, vai ter brigas comerciais com a União Europeia, ele já está falando sobre tarifas em cima de vários produtos, então em termos comerciais, econômicos, eu acho que a gente enfrenta muita turbulência, principalmente nesses primeiros dois anos, quando ele tem controle total sobre o Executivo e o Legislativo”, exemplifica.

Relação com o Brasil

Para o Brasil, o resultado das eleições americanas representa um provável esfriamento nas relações bilaterais. Trump e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, têm poucas afinidades ideológicas e as diferenças de personalidade também podem prejudicar o diálogo entre os países. O professor Lehmann acredita que a cooperação bilateral será limitada, com poucos avanços significativos até as próximas eleições presidenciais no Brasil.

“Eu não vejo nenhuma saída a não ser um esfriamento. O que Trump e Lula têm em comum? Ideologicamente muito pouco, e eu tenho a sensação de que, em termos de personalidade, eles não se dão muito bem, isso faz uma diferença na política, então até as eleições presidenciais no Brasil, daqui a dois anos, eu não vejo muita coisa acontecendo nas relações bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos, vai ter algumas coisas em relação à economia regional, talvez alguma coisa em relação à imigração, mas como as ideias são tão diferentes eu não vejo como qualquer conversa leve a alguma coisa produtiva”, afirma.

O resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos afeta o mundo todo. As políticas de Trump prometem um impacto profundo e a resposta dos democratas ao avanço da direita será decisiva para o futuro do país. Nos próximos dias, o mundo acompanhará as primeiras ações do novo presidente e as respostas dos líderes globais diante desse novo capítulo da história americana.

Constituição americana sai “arranhada”

Para o professor Renato Janine, professor de Ética e Filosofia Política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, ex-ministro da Educação no governo de Dilma Roussef,  a vitória de Donald Trump provavelmente acabará com a principal característica da Constituição americana. “Não só Trump promete exercer uma presidência autocrática, quase ditatorial, como aparelhou a Corte Suprema a ponto de ela reverter uma decisão histórica, autorizando o aborto, e terá maioria no Senado e na Câmara de Deputados. Então, isso indica que a característica principal da Constituição americana, o equilíbrio dos poderes, poderá vazar”, afirma ele, que também falou em entrevista à Rádio USP nesta repercussão da vitória de Donald Trump nas eleições americanas.

 

Logo da Rádio USP

Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.