Na madrugada desta quarta-feira (6), Donald Trump foi declarado vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos, superando a candidata democrata Kamala Harris. Donald Trump, eleito o 47° presidente dos Estados Unidos da América, venceu no Colégio Eleitoral, e também no voto popular, a oponente Kamala Harris. Trump volta a assumir o cargo presidencial depois de quatro anos. O professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais da USP, comenta as eleições e os motivos que levaram Trump a vencer.
“Trump tem isso, ele tem isso há anos, é uma mensagem muito consistente e ele é um comunicador nesse nível muito, muito bom. Eu acho que, assim, a gente pode gostar ou não da mensagem ou das políticas, mas ele sabe comunicar-se com esse eleitor que não liga para a política (…) Então, nesse nível, ele é um comunicador excepcional e com uma mensagem muito clara, e eu não vejo, há anos, na verdade eu não vejo essa mensagem no lado dos democratas”, afirma o professor.
No plano global, as repercussões do retorno de Trump à presidência já provocam preocupações entre aliados e rivais dos Estados Unidos. O professor Lehmann acredita que o apoio incondicional de Trump a Israel pode dificultar ainda mais as negociações de paz no Oriente Médio, especialmente para os palestinos. Ele também aponta que Trump pode pressionar a Ucrânia a negociar com a Rússia, embora esse movimento dependa de fatores complexos, envolvendo o apoio militar e diplomático dos EUA na região.
Consequências da eleição de Trump
O comércio mundial também fica abalado com a vitória de Trump. Lehmann alerta para o risco de turbulências comerciais, especialmente entre os EUA e países como China e membros da União Europeia. A visão nacionalista de Trump sobre a economia pode gerar conflitos comerciais em um momento delicado para o comércio internacional. Tarifas sobre produtos e disputas comerciais com grandes economias parecem iminentes, o que pode afetar a economia global e criar instabilidade no mercado financeiro.
“Por outro lado vai ter brigas comerciais com a China, vai ter brigas comerciais com a União Europeia, ele já está falando sobre tarifas em cima de vários produtos, então em termos comerciais, econômicos, eu acho que a gente enfrenta muita turbulência, principalmente nesses primeiros dois anos, quando ele tem controle total sobre o Executivo e o Legislativo”, exemplifica.
Relação com o Brasil
Para o Brasil, o resultado das eleições americanas representa um provável esfriamento nas relações bilaterais. Trump e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, têm poucas afinidades ideológicas e as diferenças de personalidade também podem prejudicar o diálogo entre os países. O professor Lehmann acredita que a cooperação bilateral será limitada, com poucos avanços significativos até as próximas eleições presidenciais no Brasil.
“Eu não vejo nenhuma saída a não ser um esfriamento. O que Trump e Lula têm em comum? Ideologicamente muito pouco, e eu tenho a sensação de que, em termos de personalidade, eles não se dão muito bem, isso faz uma diferença na política, então até as eleições presidenciais no Brasil, daqui a dois anos, eu não vejo muita coisa acontecendo nas relações bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos, vai ter algumas coisas em relação à economia regional, talvez alguma coisa em relação à imigração, mas como as ideias são tão diferentes eu não vejo como qualquer conversa leve a alguma coisa produtiva”, afirma.
O resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos afeta o mundo todo. As políticas de Trump prometem um impacto profundo e a resposta dos democratas ao avanço da direita será decisiva para o futuro do país. Nos próximos dias, o mundo acompanhará as primeiras ações do novo presidente e as respostas dos líderes globais diante desse novo capítulo da história americana.
Constituição americana sai “arranhada”
Para o professor Renato Janine, professor de Ética e Filosofia Política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, ex-ministro da Educação no governo de Dilma Roussef, a vitória de Donald Trump provavelmente acabará com a principal característica da Constituição americana. “Não só Trump promete exercer uma presidência autocrática, quase ditatorial, como aparelhou a Corte Suprema a ponto de ela reverter uma decisão histórica, autorizando o aborto, e terá maioria no Senado e na Câmara de Deputados. Então, isso indica que a característica principal da Constituição americana, o equilíbrio dos poderes, poderá vazar”, afirma ele, que também falou em entrevista à Rádio USP nesta repercussão da vitória de Donald Trump nas eleições americanas.
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