Afinal, para onde vai o capitalismo digital? Estamos entrando numa era de inteligência ampliada, criativa e sustentável? Ou a euforia em torno dos aplicativos de inteligência artificial vai tornar as nossas vidas ainda mais incertas, angustiantes e precárias?
O ritmo de crescimento econômico diminuiu em todo o mundo de forma duradoura, as novas tecnologias tornam as condições de trabalho cada vez mais precárias e a geração do emprego é um desafio. A própria sustentação das políticas de governo, que dependem da arrecadação de impostos, perde força diante da asfixia da arrecadação pelos governos, que se endividam cada vez mais para prestar cada vez menos serviços.
No colapso simultâneo de mercados e de governos surge uma nova esperança, talvez uma nova utopia: os algoritmos, ou seja, a automação por meio de computadores e seu potencial para resolver problemas, evitando o viés pró-capitalista das forças de mercado, de um lado, e também o viés da captura dos governos por burocracias que nunca são totalmente imparciais em seus processos de tomadas de decisão, para não falar da corrupção.
Para Bradford DeLong, professor de Economia na Universidade da Califórnia, Berkeley, pesquisador associado ao National Bureau of Economic Research, as utopias perdem terreno e os algoritmos podem piorar ainda mais a nossa vida social. DeLong reconhece que há um número importante de “tecno-otimistas”. Eles acreditam que uma sociedade de algoritmos será muito melhor do que qualquer coisa que se possa criar com mercados livres e com burocracias supostamente técnicas ou tecnocráticas.
Na sociedade algorítmica, como nas redes sociais, cada grupo de afinidade, espontaneamente, unido em torno de suas preferências, de suas opiniões, tudo vai bem, ou seja, os recursos seriam mobilizados para servir cada indivíduo, explorando as economias de escala sem desrespeitar as peculiaridades de cada cidadão ou de cada avatar.
Ao finalizar a sua coluna ele fala sobre os riscos da sociedade algorítimica. Para DeLong, essa utopia dos tecno-otimistas é uma ilusão. Ele retoma a diferença que se tornou célebre na obra do Prêmio Nobel da Economia Daniel Kahneman entre pensar “rápido” e “lento”. O problema é que os algoritmos com processamento ultrarrápido podem na prática favorecer apenas uma sociedade a serviço do nosso lado “pensar rápido”. É o caso do ChatGPT, a versão mais badalada, no momento, de inteligência artificial. Ao oferecer respostas rápidas que capturam a atenção das pessoas, os algoritmos podem favorecer comportamentos como o medo e a raiva, ou seja, tal como os mercados atendem aos ricos, os algoritmos podem, no final das contas, atender apenas aos nossos piores impulsos.