Preocupação do ChatGPT na imprensa está na origem das informações coletadas

Na avaliação de Daniela Osvald Ramos, existe uma facilidade do ChatGPT em produzir e espalhar notícias falsas ou informações inverídicas

 09/03/2023 - Publicado há 1 ano
A facilidade com a qual o ChatGPT produz textos preocupa especialistas – Foto: rawpixel.com/Freepik
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Na série especial de entrevistas sobre o ChatGPT – um chatbot com inteligência artificial capaz de manter um diálogo com um internauta lançado no final de novembro do ano passado –, o assunto de hoje é sobre como essa ferramenta impacta a comunicação, mais especificamente o jornalismo, a produção de notícias e a possibilidade de repercutir fake news.

Daniela Osvald – Foto: Reprodução/LinkedIn

A facilidade com a qual o chat produz textos preocupa especialistas, ainda mais por conseguir gerar explicações que podem ser mais coerentes do que aquelas produzidas por humanos. Outra preocupação é a origem das informações coletadas e veiculadas em suas respostas, que segue uma incógnita. 

“Mesmo para quem criou a inteligência artificial, é difícil saber exatamente como ela está aprendendo, porque ela depende muito do input de quem está conversando com ela”, explica a professora Daniela Osvald Ramos, da Escola de Comunicações e Artes da USP. Assim como a disrupção causada no jornalismo com o advento da criação da internet e o surgimento das redes sociais, o ChatGPT representa uma nova fase de adaptação da profissão e de seus profissionais. “Já temos uma experiência prévia de disrupção e essa vai ser uma nova fronteira, com certeza”, diz a professora.

Fake news

Outro ponto é a produção de fake news e se a ferramenta teria o poder de potencializar o seu espalhamento. Na avaliação de Daniela, existe uma facilidade do ChatGPT em produzir e espalhar notícias falsas ou informações inverídicas, o que já era visto numa etapa anterior, com as redes sociais.

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Isso se dá pelo fato de não haver uma auditoria sobre as fontes de informação da ferramenta. “Como é que a gente vai saber que fonte ela está usando?”, indaga a comunicadora. Ela ainda lembra que buscadores, como Bing e Google, trouxeram dificuldades para a disseminação de conteúdo jornalístico. O ChatGPT é uma etapa ainda à frente, porque ele não vai mostrar resultados de busca, ele vai mostrar um conteúdo já pronto e isso dificulta ainda mais a identificação da fonte”, explica Daniela.

Porém, o buraco é mais embaixo. Se o jornalismo é sobre a verificação de fontes, o ChatGPT se apresenta como um obstáculo e um desafio: traz à tona a importância da pergunta. 

Informação, desinformação e o jornalismo

Os jornalistas, assim como fizeram no passado, terão que se adaptar e dominar ainda mais os parâmetros das perguntas. Até mesmo professores, diz Daniela, estão mudando o jeito de pedir os trabalhos. Ao invés de pedir o texto, estão pedindo as perguntas que o formulam. “Essa é uma nova competência que precisamos nos aprofundar: como fazer perguntas com parâmetros específicos e com quais contextos”, avalia. 

O desenvolvimento de um espírito crítico em relação a essas informações disponibilizadas pelo ChatGPT é essencial para evitar espalhar notícias falsas. Sem crítica, problemas sociais podem ser piorados por informações coletadas no chat, assim como acontece já nas redes sociais e por aplicativos de mensagens. Para isso, a alfabetização midiática e o reforço da importância do jornalismo são fatores importantíssimos. 

“Ele pode pescar ali um blog de teorias da conspiração, por exemplo, um site de informação que tem uma estrutura de linguagem jornalística, mas que tem um conteúdo falso embutido ali. Isso é muito delicado”, explica a professora. “Delegar essa pesquisa somente para um robô também pode causar uma desorganização nesse nosso sistema midiático.” Há uma complexidade em lidar com essas mudanças que impactam nossa vida social. 

Diferentemente de nós, a inteligência artificial – por hora – não possui senso crítico, o que pode abrir brechas para a circulação de exposição a discursos de ódio, mais um desdobramento desse problema. “Quem se dedicar a ficar conversando muitas horas, em algum momento vai se deparar com algum tipo de resposta que pode estar nesse limite do discurso de ódio”, explica a professora. As respostas dadas pelo chat podem, inclusive, mexer com a sensibilidade humana. “Justamente as qualidades humanas é o que nos torna insubstituíveis, porque conseguimos driblar qualquer tipo de dificuldade”, diz Daniela. 

Daniela lembra que a inteligência artificial já é contratada por algumas redações para a produção de textos, o que ameaça o futuro dos profissionais de jornalismo. A saída é a confiança na prática jornalística, a educação sobre o que é a profissão e o aprimoramento da verificação, produção e dos temas jornalísticos.  


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