Machismo contribui para a remuneração das mulheres ser inferior à dos homens

Solange Ledi comenta estudo do IBGE que aponta as disparidades salariais entre os gêneros, mesmo em ocupações tradicionalmente femininas

 Publicado: 28/06/2024
Apesar de ocorrerem redução nas desigualdades de gênero nas últimas décadas, ainda persistem algumas diferenças – Foto: Freepik
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Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mulheres têm remuneração, em média, 17% menor que a dos homens e, até mesmo em áreas onde elas tradicionalmente ocupam mais postos, a desigualdade salarial entre gêneros é presente. A pesquisa realizada em 357 setores aponta que elas ganham menos do que eles em 82% das áreas de atuação. A professora Solange Ledi, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, comenta os resultados do estudo e explica os fatores que contribuem para essa disparidade de gênero.

Solange Ledi – Foto: FEA/USP

Segundo a especialista, apesar de ocorrer redução nas desigualdades de gênero nas últimas décadas, ainda persistem algumas diferenças, estudadas pela literatura de economia do gênero. Ela conta que existem algumas causas que influenciam nessa problemática, como a segregação ocupacional, na qual as mulheres ocupam funções com menor recuperação e condições mais precárias de trabalho. 

Estrutura familiar

Conforme Solange, o principal fator que causa uma menor participação feminina no mercado de trabalho e a ocupação em diferentes cargos consiste nas decisões acerca da estrutura familiar. Ela diz que muitas mulheres, quando tornam-se mães, passam um certo período de licença e, ao retornarem às suas empresas, encontram um ambiente diferente de trabalho e precisam ocupar postos diferentes, com alterações de atividades laboral, além de mudanças salariais e de benefícios.

Para a docente, a sociedade brasileira, assim como muitas outras ao redor do mundo, ainda divide desigualmente as tarefas domésticas e, por isso, o gênero feminino é visto como o responsável pelo lar e com o cuidado de crianças e idosos. “Elas são observadas como essa cuidadora principal, então as decisões delas na participação no mercado de trabalho são diferentes. Por parte das empresas, há uma visão discriminatória que as enxerga como uma mão de obra diferente em relação à produtividade e constância”, conta. 

Preconceito

Conforme a especialista, no momento da contratação, os empregadores veem nas mulheres uma mão de obra que, em certo período, pode se ausentar das funções devido à maternidade, então eles tentam se precaver impondo as diferenças salariais. Ela conta que essa prática é comum mesmo nos períodos atuais, em que diversas mulheres, inclusive as jovens, não sentem vontade de ter filhos.

De acordo com a professora, essa prática também ocorre no momento de escolhas para cargos de lideranças, nos quais as mulheres são preteridas em detrimento dos homens, mesmo quando possuem a mesma formação e grau de escolaridade. “Isso é algo que ocorre tanto na contratação quanto na progressão em carreiras muito competitivas. Então, muitos desses empregadores discriminam o trabalho feminino por causa da expectativa que têm de que elas fiquem fora do mercado por um tempo, caso engravidem”, reforça.

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Segundo Solange Ledi, até mesmo nas áreas e ocupações tradicionalmente femininas, como na Saúde, há discriminação com o trabalho das mulheres através de formas de remuneração de benefícios, pacotes e premiações divergentes entre os gêneros. “É uma questão de evolução e de mudanças, pois todo mundo perde quando as mulheres ficam fora do mercado ou em condições de trabalho precárias, isso afeta o PIB e o crescimento econômico. São necessárias políticas públicas de suporte, como a oferta de creche para todas as mães, por exemplo, para que se reduzam as penalidades impostas após a maternidade”, finaliza.


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