Macron é a prova de que existe estupidez na política

O político francês dissolveu, de uma hora para outra, sem consultar ninguém, uma Assembleia Nacional na qual seu partido era maioria

 Publicado: 03/07/2024

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Nesta edição de sua coluna, o professor Renato Janine Ribeiro se propõe a analisar o atual cenário político na França, para concluir que, sim, existe estupidez na política, o que não é lá muito frequente, uma vez que geralmente os políticos lutam pelas suas causas e procuram fazer o melhor para obter sucesso na condução de seus objetivos e propostas e para manter-se no poder. “Contudo, há momentos em que a  estupidez passa dos limites”, diz Janine, nesse caso referindo-se ao presidente francês Emmanuel Macron, que, “sem escutar ninguém relevante, sem falar com o primeiro-ministro, sem falar com os presidentes da Câmara e do Senado – que pela Constituição deveria consultar – de repente decidiu dissolver a Assembleia Nacional”. O detalhe é que seu partido era o maior na Assembleia, ostentando, até três semanas atrás, mais de 200 cadeiras.

“O projeto Macron acabou”, constata o colunista. “O projeto de um centro que não é nem esquerda nem direita, que namora a direita mais do que namora a esquerda, isso desapareceu, ele conseguiu não só perder a eleição, mas praticamente liquidar o movimento dele. O que resta agora? Macron tem três anos de mandato, pode fazer bastante coisa. Ele pode, por exemplo, convocar plebiscitos, mas que precisam obviamente de uma maioria para passar, ele pode dissolver a Assembleia daqui a um ano, então vai ter que conviver durante um ano com um governo que não será dele. Se a extrema-direita tiver a maioria, a extrema-direita vai fazer o que quiser […] é até provável que a extrema-direita consiga a maioria absoluta, porque Macron não está fechando com a esquerda, Macron está fechando com a esquerda moderada, mas está recusando apoio automático de uma esquerda mais radical. O risco de Macron é chegar à situação do primeiro presidente da terceira República, marechal Mac-Mahon. Era um homem muito de direita e perdeu a maioria na Assembleia, aí o que aconteceu? Simplesmente, diante do impasse, chegou a hora que um grande político de esquerda disse: ‘O senhor se submete ou se demite’. Ele acabou se demitindo. Resta ver como vai ser o final de Macron depois de tanta bobagem que ele fez”, conclui.


Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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