Blog

Para Renato Janine Ribeiro, é muito chocante que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre tenha sido invadida, no dia 20 de outubro, por “pessoas que defendem a morte”. “Elas foram lá para defender o direito de circularem sem estarem vacinadas”, diz o colunista.

Segundo o professor, isso sinaliza o ponto tão ruim que chegamos no Brasil atualmente, em que há pessoas que acham que a sua liberdade pessoal é a liberdade de fazer mal aos outros. Esse é um dos grandes problemas que o bolsonarismo e o trumpismo, nos Estados Unidos, trouxeram: a ideia de que as pessoas podem fazer o que quiserem, sem se importarem se aquilo causa mal ao outro. “Se o Estado, ao qual cabe justamente regular os excessos, impedir esses ataques e essa destruição, se o Estado não fizer o seu papel, nós estaremos numa situação muito delicada, muito ruim.”

Janine ainda comenta uma frase dita por uma das manifestantes a uma vereadora negra: “Você é minha empregada”. Para o professor, isso mostra todo o peso do preconceito e do racismo na sociedade brasileira. Curiosamente, o Estado do Rio Grande do Sul já teve um governador negro: Alceu Collares. Mas continua tendo um preconceito de raça significativo, assim como em outros estados do Brasil.

Ele diz que talvez também essa ideia esteja um pouco confundida com algo que está se espalhando na sociedade: a ideia de que o representante político é um “empregado” do representado. Janine destaca a confusão grande, que muitas vezes é feita porque o representante, na verdade, representa muita gente e não é um “empregado” de cada um. “Ele deveria, sim, representar todos os eleitores, mas nem sempre faz isso. Mas não é desrespeitando uma pessoa pela cor ou raça, não é escolhendo especificamente uma negra para dizer isso que você avança onde quer que seja em termos democráticos”, aponta. Para ele, é um episódio que mostra um desprezo pela vida, pela liberdade e pelo outro e que deve ser punido.