Impactos da vitória de Donald Trump no contexto ambiental

Pedro Luiz Côrtes externa sua preocupação em relação a algumas posições de Trump, já conhecidas, como sua reticência quanto ao Acordo de Paris e a disposição de eliminar regulamentações ambientais

 Publicado: 08/11/2024 às 11:49
O posicionamento americano reforça a retórica antiambientalista de Trump, que pode ter impactos profundos no avanço de práticas sustentáveis no setor empresarial – Foto: Gage Skidmore from Peoria, AZ, United States of America – Wikimedia
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Desde a recente vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, seu histórico e posicionamento quanto às políticas ambientais voltaram a ser objeto de intenso debate. Reconhecido por não acreditar nas mudanças climáticas, Trump já indicou a possibilidade de retirar novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris, pacto climático internacional fundamental para o combate às emissões de carbono. Essa perspectiva gera preocupações não apenas nos EUA, mas em diversos países, como o Brasil, que depende de apoio internacional para preservar suas florestas e lidar com os impactos das mudanças climáticas.

Durante seu primeiro mandato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, uma decisão que, embora tenha levado anos para ser implementada, foi revertida por Joe Biden logo ao assumir a presidência. A esse respeito, o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, aponta que Trump pode adotar uma abordagem mista: em vez de uma retirada imediata, ele poderia permanecer no acordo para influenciar as negociações climáticas, especialmente em favor das indústrias de petróleo e gás. “Eu não me surpreenderia se ele resolvesse manter os Estados Unidos no Acordo de Paris como uma forma de usar a influência política dos Estados Unidos para interferir nesses acordos de tal forma que ou uma COP fechasse sem um acordo formal ou com um acordo formal, mas que postergasse essa transição o máximo possível”, exemplifica o professor.

Nos últimos anos, grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Azerbaijão, têm sediado conferências climáticas (COPs) para exercer influência sobre as decisões ambientais. Segundo Côrtes, é possível que Trump adote essa tática para favorecer o setor que apoia sua base eleitoral, prolongando a transição para fontes de energia mais sustentáveis. O professor explica também um pouco do impacto da China nas mudanças climáticas. “Na COP deste ano, a China não vai participar, mas como o Brasil tem, de certa forma, se aproximado da China, é possível que, na COP do próximo ano, o Lula consiga que a China participe. A China é o maior emissor de gases de efeito estufa, os Estados Unidos estão na segunda posição, ele é o maior produtor de petróleo no mundo, mas é o segundo maior emissor. Se o maior emissor, que é a China, participar, aí realmente a gente volta a ter uma COP com a presença de países importantes para as causas climáticas”, discorre.

Veículos elétricos

Trump é conhecido por suas controvérsias. Uma delas é a sua proposta de reduzir incentivos para a produção de veículos elétricos, indo contra tendências globais de descarbonização. Essa postura, embora favoreça as tradicionais montadoras americanas, coloca em conflito interesses de apoiadores de Trump, como Elon Musk, dono da Tesla e um dos maiores produtores de carros elétricos no país. Ainda assim, os planos de sobretaxação de produtos chineses podem servir para mitigar os impactos da concorrência externa, facilitando a sobrevivência das montadoras americanas no mercado.

A promessa de Trump de eliminar regulamentações ambientais, incluindo aquelas que limitam as emissões de gases poluentes, também desperta grande preocupação. Contudo, Estados como a Califórnia têm leis próprias para a proteção ambiental e continuam impondo limites rigorosos, o que poderia compensar, em parte, as flexibilizações federais e manter o incentivo à produção de veículos menos poluentes. Segundo o professor Pedro Luiz Côrtes, o posicionamento americano reforça a retórica antiambientalista de Trump, que pode ter impactos profundos no avanço de práticas sustentáveis no setor empresarial. Resta observar como o cenário irá se desenrolar, principalmente com relação ao Acordo de Paris e os efeitos que suas decisões terão sobre o futuro das políticas ambientais globais.


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