Na coluna Observatório da Inovação desta semana o professor Glauco Arbix comenta os impactos para a área tecnológica na decisão recente dos Estados Unidos para a questão do aborto.
Os impactos vão muito além do que se chama costumes. Nos Estados Unidos a Suprema Corte derrubou uma lei de 1973 que garantia, no âmbito federal, o direito ao aborto. Arbix enfatiza que o Estado sob decisões conservadoras avança sobre a privacidade de cada um, mas também sobre as empresas que oferecem serviços que podem ser caracterizados como corresponsáveis por decisões individuais.
Começa a correr em Cortes estaduais nos Estados Unidos a exigência da quebra de sigilo de conversas em redes sociais, de busca por informação que comprove a ida de mulheres a clínicas que executam o aborto, pessoas que procuram medicamentos que podem provocar o aborto e que acabam levando a uma discussão legal, abrindo as portas para a vigilância generalizada na sociedade que tem na base a quebra de privacidade. “Tem gente preparando aplicativos para perseguir mulheres que pensam em praticar o aborto” diz.
Para Arbix, mesmo nos Estados Unidos em que os Estados têm mais liberdade para decisões, eles, também, não estão preparados para isso. A regulação que atinge tecnologia tende a aumentar. O resultado é que essa disputa está aberta e é preciso muita coragem para refluir essa maré e deixar que a tecnologia, neste caso, ajude não a salvar vidas, mas impedir que pessoas não possam viver com liberdade.