IBGE dá um grande passo em direção à reconstrução da economia política das cidades

Raquel Rolnik comenta decisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que abandonou o termo – historicamente consolidado – “aglomerados subnormais” para se referir às favelas e territórios populares do País

 05/10/2023 - Publicado há 1 ano
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Na semana passada, aconteceu um verdadeiro momento histórico do IBGE. O IBGE convocou lideranças de favelas e de territórios populares pelo País, estudiosos do urbano e da habitação, a própria composição do IBGE em diversas regiões do País, demógrafos, enfim, para repensar a forma como as estatísticas e a produção de dados do IBGE se referem às favelas e territórios populares no País, e perguntando e pensando em rever esses critérios e essas denominações. Historicamente, o IBGE chama favelas e territórios populares de “aglomerados subnormais”. Isso significa muito claramente uma estigmatização das formas de organização dos territórios populares do País e, sobretudo, uma estigmatização que aponta basicamente para o aspecto da inadequação – informal, inadequado, carente -, muito mais do que sobre os elementos presentes na própria organização desse espaço. Então, esse encontro em Brasília foi muito interessante, porque ele abre a possibilidade de repensar completamente a forma como isso é feito pelo IBGE.

É muito importante entender que a questão da mudança não é somente um nome, é muito mais do que isso. Na economia política da cidade, na forma como as cidades se organizam, definir esse lugar que são os espaços autoproduzidos pelos próprios moradores, os espaços que acabam significando formas de construção de cidades negociadas permanentemente com o Estado, com a legislação, com as normas urbanísticas, é um dos fundamentos da economia política das cidades e do lugar político que esses sujeitos que ali habitam ocupam na cidade. Portanto, rever esse nome e a definição dos critérios e, sobretudo, fazer isso com a participação ativa e direta dos próprios moradores, me parece um passo fundamental para também reconstruir politicamente essa relação, algo absolutamente necessário no nosso país.


Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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