Na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que cria uma iniciativa nacional de projetos tecnológicos de alto impacto. Essa iniciativa quer definir e priorizar desafios tecnológicos que o Brasil enfrenta e que nem sempre encontra apoio de infraestrutura e de investimento para serem superados. Glauco Arbix menciona, como exemplo, a dengue, que, em sua opinião, merecia um esforço concentrado “de toda a nossa pesquisa, das nossas empresas, para salvar vidas. Exatamente pensando nesse tipo de grande problema, a iniciativa foi proposta pelo grupo de economia do futuro do ‘Conselhão’ e quer transformar ciência e tecnologia em aumento do PIB, emprego, em impostos, em exportações, em criação de novos negócios industriais que tenham competitividade internacional”, diz Arbix. Ele aposta sua certeza de que o Sistema Nacional de Inovação será impactado por essa iniciativa, “que se baseia num modo diferente de organizar pesquisa, já que possui uma lógica nova, que parte do interesse nacional para mobilizar as competências necessárias para a gente gerar tecnologia. Essa é uma prática cada vez mais corrente em países avançados, mas ainda inexistente no Brasil”.
Na prática, o projeto vai funcionar a partir de uma decisão do presidente da República, que define o desafio nacional, verbas públicas são anunciadas em um edital também para todo mundo e as universidades e empresas se articulam em consórcios, se candidatam para resolver o desafio. “Para cada R$ 1 público será exigido um R$ 1 privado, de modo a potencializar o investimento e o retorno para a sociedade. Essa nova forma de estimular pesquisa, que é baseada em prazos voltados para entregar resultados palpáveis, eu acredito que areja um ambiente científico brasileiro, convida os pesquisadores e pesquisadoras, assim como as empresas, a se mobilizar para superar grandes entraves nacionais. Hoje, se alguém quer fazer algo parecido, tem que participar de algum projeto financiado e sustentado por universidades estrangeiras e em países mais avançados. Nós vamos abrir essa oportunidade agora, aqui no Brasil.”
Arbix fala a seguir a respeito dos projetos já pensados, entre os quais está a geração do hidrogênio verde, desenvolvido na USP, mas também está no radar a proposta da criação de um polo tecnológico de biotecnologia, em especial para as técnicas do RNA mensageiro, que teria como base a Fiocruz e o Butantan. “Programas para combater as mudanças do clima e prever eventos extremos, com base em inteligência artificial, e lá na nossa Amazônia, evidentemente para multiplicar os benefícios da nossa biodiversidade, são exemplos de grandes desafios que pedem enorme volume de recursos, mas que podem mudar a vida das pessoas em nosso país. Eu acredito que nós temos chance de mudar exatamente o panorama da pesquisa e melhorar a nossa economia e a vida das pessoas no Brasil com essa iniciativa”, finaliza o colunista.
Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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