Pela primeira vez na história da arte e da ciência, uma exposição questiona a estética do preconceito através dos nomes populares e científicos de centenas de plantas. A pesquisa de Giselle Beiguelman está na exposição Botannica Tirannica, com a curadoria de Ilana Feldman, no Museu Judaico de São Paulo. “Judeu errante, orelha-de-judeu, Maria-sem-vergonha, bunda-de-mulata, peito-de-moça, malícia-de-mulher, catinga-de-mulata, ciganinha, chá-de-bugre, entre muitos outros são apresentados na mostra”, conta a artista e professora em sua coluna Ouvir Imagens da Rádio USP (clique e ouça o player acima).
A artista reuniu na mostra imagens e vídeos produzidos com IA (Inteligência Artificial), propondo uma investigação estética e conceitual a respeito do imaginário colonialista nesse processo de nomeação da natureza, cujas espécies, caso das plantas ditas “daninhas”, recebem nomes ofensivos, preconceituosos e misóginos. O visitante é envolvido pelo espaço onde, além do jardim com as espécies reais, há a série Flora mutandis, que Giselle Beiguelman cria com IA gerando seres híbridos com plantas verdadeiras e inventadas em um jardim pós-natural. Também há a música Paisagem Sonora, composta especialmente para a exposição, por Gabriel Francisco Lemos, pesquisador do Projeto Gaia do Inova USP. E as sete aquarelas, que trazem um jardim imaginário, criadas pelo artista convidado Ricardo Van Steen. “A botânica clássica antropomorfiza o mundo vegetal e faz das plantas um espelho do homem”, comenta a artista. “O modo como se nomeia o mundo é o modo como se criam as divisões, os preconceitos, e se consolida o pensamento binário. A nomenclatura é um ritual de apagamento.”
A mostra Botannica Tirannica fica em cartaz até o dia 18 de setembro no Museu Judaico de São Paulo, que fica na Rua Martinho Prado, 128, de terça a domingo, das 10 às 18 horas. Ingresso: R$ 20,00
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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