O ditado popular diz que “uma foto vale mais que mil palavras”. De fato, o uso da fotografia, veiculada principalmente a partir do fotojornalismo, é um dos principais modos de comunicação, criando uma importante conexão entre texto e imagem.
De acordo com Wagner Souza e Silva, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, um fotojornalista se torna aquele repórter que, obrigatoriamente, tem que estar em campo, presente no momento de um determinado evento a ser registrado e narrado. “Ele acaba funcionando como uma espécie de atestado de presença dos veículos jornalísticos”, comenta.
Fotojornalismo de guerra
O especialista analisa que esse atestado de presença ganha uma dramaticidade maior quando se pensa no fotojornalismo de guerra, em que o profissional está sob um sério risco para conseguir produzir as suas imagens. Essa disponibilidade cria um envolvimento do fotógrafo com aquilo que está sendo fotografado, o que pode acabar contaminando a produção fotojornalística. “Muitas vezes, as condições de produção dessas fotografias exigem do profissional do fotojornalismo uma agilidade em termos de manejo da linguagem fotográfica, da estética fotográfica perante as situações conflitantes de extrema precariedade com as quais ele está lidando”, explica.
Souza e Silva afirma que fotojornalistas têm uma certa versatilidade para atender às exigências de cada situação e objetivo que se quer veiculado — no fotojornalismo de guerra há uma exigência de certas especificidades e protocolos que dizem respeito diretamente à própria sobrevivência do fotógrafo. Ele relata que, de certa maneira, prêmios como a World Press Photo, que premia as melhores fotografias do ano desde 1955, acabam reconhecendo um pouco o entrelace de emoções vividas pelo fotojornalista, que, segundo o professor, associa “a emoção do que está sendo registrado com as emoções do fotógrafo no momento em que está vivenciando aquilo. É esse entrelace que reflete no resultado final das imagens fotográficas”.
Significados
Souza e Silva explica que, mesmo com diferentes leituras entre os espectadores para uma mesma imagem, muitas fotografias buscam conduzir as leituras dentro de uma espécie de convergência, como se só fosse possível extrair um único significado de uma imagem, por conta do seu impacto — técnica comum em fotos premiadas. “Essa ideia de se chegar em uma convergência de sentidos que se pode atribuir para uma imagem é muito típico do fotojornalismo de guerra. Normalmente a partir da dor do outro e de uma situação extremamente precária é como se não houvesse possibilidade de pensar outros significados que não aquela fotografia impactante que nos toca”, complementa.
No entanto, o professor afirma que outros tipos de fotojornalismo, como a cobertura de esportes ou da agenda política, trazem uma intervenção maior do fotógrafo na composição, seja no arranjo visual ou até na busca de direcionar a leitura e interpretação das imagens. “Nada se compara à fotografia de guerra. Penso que no fotojornalismo dessas situações-limite, traumáticas, não cabe tantas interpretações”, conclui.
World Press Photo
Em São Paulo, a World Press Photo, organização independente sem fins lucrativos, fundada em 1955, em Amsterdã, exibirá uma exposição, até o dia 10 de novembro, de 129 fotos jornalísticas já premiadas pelo evento. Ela é conhecida por realizar anualmente a maior e mais prestigiada distinção de fotojornalismo do mundo. De acordo com Souza e Silva, a escolha de imagens, tanto para a premiação de eventos quanto para o uso jornalístico, tem um critério particular: “Não é tanto a mais bela imagem, mas é a imagem que tem potencial de impactar os seus leitores, despertar a atenção necessária para aquela situação que foi fotografada”.
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