Conhecida pela sigla FAO, correspondente à sua denominação em inglês, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura divulgou há alguns dias em sua sede, em Roma, a edição mais recente do relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo. Elaborado pela FAO em conjunto com outros organismos do sistema da Organização das Nações Unidas, a ONU, entre eles a Organização Mundial da Saúde, o relatório é alarmante.
Ele indica, com toda clareza, que alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – os ODS, fixados pela ONU para 2030 – não serão mais alcançados. São os objetivos listados no ODS número 2, que determinam para a comunidade internacional a obrigação de acabar com a fome e com todas as formas de desnutrição até 2030, ou seja, daqui a pouco mais de seis anos.
As informações apresentadas no relatório comprovam essa perspectiva lastimável. Atualmente, mais de 700 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo, o que equivale a quase 10% da população do planeta. E esse número, que deveria estar caindo por conta da meta de “fome zero” fixada para 2030, aumentou significativamente nos últimos anos. São 120 milhões a mais, em comparação com 2019, antes da pandemia de covid-19. Já o quadro mais geral de insegurança alimentar atinge quase 2,5 bilhões de pessoas, praticamente um terço dos habitantes da Terra.
Por ocasião da divulgação do relatório, no último dia 12, a FAO alertou para o fato de que, desde a edição de 2017, o relatório vem repetidamente chamando a atenção para fatores que estão inviabilizando os objetivos do ODS número 2, de eliminação da fome e da desnutrição. De um lado, a intensificação e a inter-relação de conflitos armados, situações climáticas extremas e crises econômicas. De outro lado, a crescente desigualdade social, com a consequente falta de maior acesso a alimentos nutritivos.
As informações relacionadas ao Brasil são igualmente preocupantes. De um total de cerca de 210 milhões de habitantes, a situação de fome absoluta atinge 10 milhões em nosso país, segundo o relatório; e a insegurança alimentar, um total de 70 milhões. Apesar de um quadro de relativa estabilidade entre os dados de 2021 e 2022, no Brasil e no mundo, é um número extremamente elevado de pessoas em condições alimentares muito precárias.
O relatório elaborado pelos organismos da ONU pode ser encontrado na internet. Abaixo está disponível o link para uma versão resumida do texto no idioma espanhol. O link também dá acesso à versão integral em inglês. É um material informativo de fácil leitura e muito útil para pesquisadores e para todos os que acompanham os enormes desafios para a afirmação da cidadania em nosso planeta.
https://www.fao.org/documents/card/es/c/cc6550es
Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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