Está em cartaz na Galeria Cerrado, em Goiânia, a exposição Paisagem Aclimatada, de Talles Lopes, que tem curadoria de Divino Sobral. Guilherme Wisnik diz que Lopes é um artista cuja principal preocupação é o comentário artístico, “a fricção, o tensionamento em relação à arquitetura moderna brasileira, esse patrimônio tal como ele chega a nós nos dias de hoje”. A ideia de Paisagem Aclimatada se refere “aos jardins de aclimatação, esses jardins estufas, de ecossistemas e biomas do mundo, tropicais, quando chegam à Europa e são mostrados de forma um tanto exótica”. A exposição traz os jardins do Burle Marx como imagem dessa modernidade brasileira, “que foi vista de uma maneira também muito exótica pelo mundo e contrapõe, ou funde, essa imagem de modernidade brasileira na sua relação com a natureza tropical, com a própria exploração colonial, as capitanias hereditárias, os primeiros mapas de ocupação na América do Sul, trazendo um primeiro incômodo”.
É um trabalho crítico, segundo enfatiza Wisnik, “a questão é saber até onde essa crítica se esgota ou ela é pertinente” e uma prova disso são os catálogos de peças de vasos de grande escala, dos anos 50, feitas com fibrocimento ou cimento amianto, “em formas arredondadas que lembram a arquitetura do Niemeyer, tem um catálogo do produto que ele reproduz ali, que compara e alude a floreira ou a jardineira com o Palácio da Alvorada e dentro dela ele coloca plantas exóticas tropicais, que começam a invadir o espaço da galeria, fazendo uma referência à famosa exposição Brazil Builds, no MoMa de Nova York, em 43, que mostrava a arquitetura moderna brasileira colocando vasos e plantas dentro do espaço positivo. Então, pelo trabalho do Talles, a gente percebe como esse acervo, esse patrimônio da arquitetura e do paisagismo moderno brasileiro chega como uma espécie de praga invasora no imaginário dos dias de hoje, e a aposta em perspectiva crítica é muito bem-vinda, num momento em que a própria Brasília e esses edifícios passam a ser depredados e objetos de ataque, e vistos desde um ângulo assombroso por uma parte expressiva do Brasil, com a qual a gente tem que se relacionar e, ao mesmo tempo, criticar”.
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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