A rebelião do Grupo Wagner na Rússia tem mobilizado o interesse da mídia brasileira, levando-se em conta que muita gente, até então, jamais havia tomado conhecimento desse exército de mercenários, o que não é, porém, o caso da professora Marília Fiorillo, que já de algum tempo, em sua coluna na Rádio USP, havia alertado sobre a parceria entre esse grupo e o governo de Vladimir Putin. “A Rádio USP foi pioneira em denunciar este grupo. Fizemos sete ou oito podcasts sobre esses mercenários, e muitas das informações agora veiculadas, como a biografia de Prigozhin, sua atuação a serviço do Kremlin na exploração de petróleo e minérios, principalmente na África, suas fileiras formadas por assassinos que receberam indulto para juntar-se aos mercenários no ataque à Ucrânia, enfim, vários detalhes que surgiram agora na mídia brasileira podem ser revistos nessas colunas que fizemos. Em abril do ano passado, já vinculávamos o grupo à ajuda russa ao regime de Bashar al-Assad e ao compositor alemão Wagner, para incredulidade de muitos. Na semana retrasada, frisávamos o agravamento do conflito entre Prigozhin e os generais russos. Tendo acompanhado de tão perto, e há tanto tempo, esse grupo infame, só podemos ter uma certeza: a de que é impossível fazer qualquer previsão sobre os desdobramentos desse motim.”
“É risível”, segundo a colunista, “imaginar que a saída de exílio e perdão para o líder do grupo tenha sido iniciativa de Lukashenko, o ditador fantoche da Bielorrússia. Sabe-se muito pouco, exceto a popularidade de Prigozhin entre os russos na rota de Rostov para Moscou. É bom lembrar que Putin, o padrinho do grupo, continua a precisar dele, assim como Prigozhin continua a necessitar de Putin. O ditador russo não pode prescindir desse grupo, que foi o responsável pelas poucas vitórias russas em território ucraniano, e que, por ser terceirizado, exime o regime russo de inúmeros crimes de guerra. E Prigozhin não pode se divorciar abruptamente de Putin, já que é financiado por ele e alguns oligarcas russos para atividades pouco lícitas e muito lucrativas na África. O motim nasceu da exigência dos militares russos de que o Wagner se submetesse formalmente a eles. Os grandes perdedores, portanto, são Shoigu, Gerasimov e o Estado Maior militar russo. Avançar além disso seria cometer o mesmo equívoco em que caímos no início da ocupação, o de que as “operações militares” a mando de Putin tomariam a Ucrânia em questão de dias. Lembram?”
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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texto da coluna atualizado em 3/07