Estudo analisa a influência das divergências políticas e da corrupção na rotatividade dos líderes de saúde durante a pandemia de covid-19 no Brasil. Apenas durante os dois primeiros anos do surto da doença, em 2020 e 2021, o País teve quatro nomes diferentes à frente do Ministério da Saúde. A professora Lorena Barberia, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras, e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo e uma das autoras da pesquisa, discorre sobre os dados apresentados e comenta os fatores que atuavam na constante troca dos ministros.
Segundo a especialista, o objetivo do estudo foi analisar a rotatividade tanto no Ministério da Saúde quanto nas Secretarias estaduais e municipais para conhecer quantas alterações ocorreram nas lideranças dessas pastas. Além disso, ela conta que foi analisada também a maneira pela qual foi causada essa mudança, que pode ter sido por conflitos relacionais ou reputacionais, ou seja, por crises de corrupção e fraude ou conflitos de ideias entre governantes sobre a implementação de determinadas políticas públicas.
“No Brasil, essas questões foram muito importantes e geraram preocupação nas pessoas. É importante lembrar que a troca de liderança na pasta mais importante durante o enfrentamento de uma crise sanitária é muito ameaçadora e preocupante, isso gera uma paralisia institucional e diversos problemas de conflito, porque o novo secretário pode ter pautas e ideias completamente diferentes de seu antecessor”, diz.
Desvio de foco
Conforme a professora, essas constantes alterações refletiam nas maneiras de tratamento oferecidas às pessoas, uma vez que o foco nas pesquisas, nas testagens e na imunização muitas vezes era deixado de lado e entravam em cena as discussões acerca de tratamentos alternativos que não tinham a eficácia comprovada cientificamente, como a ivermectina e a cloroquina.
“E atualmente, que temos mais tempo para refletir sobre esse período, é importante começar a pensar nesses problemas de fragilidade de liderança para possíveis pandemias no futuro. É preciso acompanhar de perto quem é nomeado para esses cargos, porque essa pessoa precisa ter uma certa experiência prévia de gestão e saúde pública. O que também observamos na pesquisa é que uma pessoa que assumia a pasta e já tinha experiência prévia tinha menos chance de deixar o cargo”, diz.
Cessão de cargos
De acordo com Lorena Barberia, o sistema político brasileiro possui muitos partidos e, por isso, são formadas coalizões partidárias, que acabam resultando, muitas vezes, na cessão de cargos para que as legendas consigam a maioria necessária para governar. Ela conta que isso pode gerar problemas, caso a nomeação seja dirigida a políticos que não possuem as condições necessárias de experiência para dirigir determinadas pastas, como no caso de Eduardo Pazuello, que é militar e esteve à frente da Saúde por nove meses, entre 2020 e 2021.
“A questão da corrupção também foi importante, pois achamos indícios de algumas Secretarias onde houve trocas de cargos por causa de compras ilícitas com valores elevados, levando o secretário a ser demitido ou renunciar. Mas isso foi em números menores, já que o principal motivo para essa grande rotatividade na frente das Secretarias de saúde foram conflitos políticos e não corrupção”, finaliza.
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